quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O DELATOR (1935), de JOHN FORD - 14.09.2011

Este filme de mais de 75 anos tem obviamente os defeitos que já apontei em outro ponto, de ser dos primeiros anos do cinema falado, o que a meu ver traz ainda uma interpretação muito teatral, até mesmo a cena do julgamento de Mulligan e depois de Gypo parecem estar sendo filmadas num tablado.

Na história, Gypo Nolan, um irlandês meio estúpido, porém muito forte fisicamente, vaga pelas ruas, sem dinheiro algum há seis meses, tendo sido recusado para ser membro do IRA pois não teve coragem de cumprir uma ordem da direção do exército revolucionário. Sua namorada, Katie, na mesma condição de penúria, passou a se prostituir.
Nesse quadro, ele avista um aviso de recompensa de 20 libras por qualquer informação que leve a seu amigo Frankie McPhillip, integrante do IRA procurado por assassinato. Ao mesmo tempo, sua namorada sonha com a felicidade em uma migração para os EUA, com passagens custando 10 libras.
Premido pela fome, pelo amor - e esperança de uma nova vida na América, pela necessidade, e com o juízo embotado por alguma bebida, Gypo delata seu amigo, que é morto pela polícia dentro da casa de sua mãe, e nosso herói de poucas idéias recebe a sua recompensa. Os integrantes do IRA logo suspeitam que houve um delator, e dizem a Gypo que ele pode voltar ao grupo dês que descubra quem foi o informante, e este não hesita em apontar Mulligan, um alfaiate como o autor da denúncia.

Gypo então inicia uma peregrinação noturna alucinada, onde vai a bares, tabernas, boates, casa de prostituição, desfazendo-se do dinheiro não se sabe se por remorso, por embriaguez, ou por bondade, eis que paga comida a muitos num refeitório "fish and chips", dá esmola a um cego, gasta com bebida na zona, dá dinheiro a uma prostituta que se parece - na imaginação dele - com Katie, paga as dívidas daquela prostituta com a dona do bordel, é conduzido por um farrista mau caráter, e por fim, dá o resto do dinheiro - naquela hora apenas 5 libras, à própria Katie. Li uma crítica sobre o filme que aponta para a frase mostrada no início do filme, de que Judas, enojado com o próprio ato, jogou ao chão as 30 moedas que recebeu por trair Jesus, querendo dar a entender que a conduta de Gypo com a grana - e com a culpa - foi semelhante a de Judas. Boa sacada.
Arrependimento, euforia com o dinheiro, atos de bondade, e mau-caratismo se misturam sucessivamente na conduta de Gypo, que é ao final, desmascarado em sua invectiva contra Mulligan e levado a confessar perante um tribunal revolucionário que foi ele o delator, mas sem saber explicar exatamente porque assim agiu, alternando suas explicações entre amor, bebida, necessidade, etc.
Antes de ser executado - os representantes do IRA justificam a execução sob pena de Gypo colocar em risco toda a resistência ao domínio inglês sobre a Irlanda -  consegue fugir. Ele se refugia na casa de Katie, pergunta-lhe onde estão as 20 libras que lhe dera (que como dito, não eram mais 20), ela se compadece e vê que ele não sabe exatamente quais os seus atos nem as reais conseqüências deles.
Katie tenta interceder por Gypo junto a Gallagher, dirigente do partido, conta-lhe onde Gypo está, mas este se mostra irredutível pelas razões já expostas. Tenta ainda interceder junto à namorada de Gallagher, e coincidentemente irmã de Frankie McPhillip - o traído - até recebendo o perdão desta e a aquiescência pela não punição (há alguns momentos no filme de exortação ao fim da violência praticada pelo IRA), mas Gallagher não cede.
Gypo é alvejado com quatro tiros, mas consegue rumar até a igreja - aparentemente esperando apenas o perdão divino - o IRA é católico, mas lá encontra a mãe de Frankie, que o perdoa, com base nas famosas palavras de Jesus aos ladrões na cruz - Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem.
O intérprete de Gypo Nolan, Victor Maclaglen ganhou o Oscar de melhor ator pelo papel, em interpretação que eu, particularmente, considero um pouco aborrecida, basicamente um bêbado com momentos de lucidez, arrependimento, amor, mas um bêbado.
Um filme sobre o perdão - humano e divino - a culpa, o arrependimento, o peso das escolhas, e as conseqüências advindas de cada ato humano. Um pouco raso, mas tudo bem.
Há alguns momentos em que a fotografia é muito bonita, especialmente nas cenas noturnas em que a luz que vem de dentro dos edifícios ilumina o nevoeiro. É o mais marcante do filme, penso eu. 
 Nota IMDB: 7,6. Não achei tudo isso. Daria um 6 ou 6,5.

Um comentário:

  1. Um filme maravilhoso, dou nota dez. Quem escreve não leva em consideração o ano em que o filme foi feito; há alguma estereotipia no ator, mas é leve e no mais, ele consegue levar a cabo esse magnífico filme, todo ele passado à noite e madrugada, com belas cenas de rua.

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