segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O PLANETA DOS MACACOS (1968), de FRANKLIN J. SCHAFFNER - 29.01.2012

Após viajar por seis meses à velocidade da luz, astronautas que deixaram a Terra em 1972,  já percorreram uma distância-tempo que pela diferença temporal causada pela velocidade da luz, significa que na Terra mais de 700 anos já se passaram, e portanto, todos que deixaram para trás já morreram, e nosso Planeta já estaria aproximadamente no ano 2673.


Então, a tripulação hiberna, pois mais um ano seria necessário para a conclusão da viagem, o que nos levaria a aproximadamente 2100 anos decorridos na Terra. Estaríamos, em nosso planeta, por volta do ano 4000 (no painel da nave, ano 3978). Um dos quatro tripulantes morre durante a hibernação, por uma falha no sistema, restando três astronautas nessa exploração do espaço. 


Quando chegam ao destino, pelo local de aterrissagem, na água - deveria ser no seco - e próximos a um deserto, já desconfiam ter algo dado errado, e que o destino imaginado não se concretizou (algum planeta na órbita de alguma estrela da constelação de Órion). Resolvem explorar o lugar e após três dias de caminhada, encontram uma raça de humanídeos, que eles presumem ser algo como a raça humana, embora estes não falem, sejam meramente coletores, sendo muito atrasados na escala evolutiva por nós considerada, e considerado o estágio da civilização na década de 70. 
Logo após esse encontro, os humanídeos sofrem um ataque de uma espécie mais evoluída, com armas, redes, conhecimento da roda, de carroças, uso de cavalos, e para espanto dos astronautas, esses seres evoluídos são macacos (chimpanzés, babuínos e gorilas, sendo, aparentemente, os babuínos os líderes, os chimpanzés uma classe média, de técnicos e intelectuais, enquanto os gorilas são a força bruta).  Matam, aprisionam, enfim, os macacos subjugam completamente os humanídeos, eliminam com um tiro um dos três astronautas e prendem os outros dois, mas em lugares diversos, de modo que os sobreviventes perdem contato entre si. 


Taylor (Charlton Heston) é ferido na garganta e preso. Em sua jaula, serve como objeto de estudo dos chimpanzés Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall), uma veterinária e um arqueólogo-historiador (este que na zona proibida, lá onde caíra a nave humana, encontrou vestígios de uma civilização adiantada, antes do surgimento dos primatas como os mais evoluídos). Taylor, mesmo sem conseguir falar em razão de seu ferimento, consegue demonstrar sinais de inteligência que assombram os macacos, pois a esta altura, estes já identificaram Taylor como um dos humanos subdesenvolvidos que habitam a mata. 
No início, esses pequenos sinais de inteligência chamam a atenção apenas de Zira e Cornelius. Eles tentam alertar Dr. Zaius, Ministro da Ciência e ao mesmo tempo o Guardião da Fé (fé e razão conciliáveis?) sobre esse humano, inteligente. Seria ele um elo perdido na evolução macaco-homem (!), uma mutação? 
Todos são absolutamente reticentes sobre as habilidades do humano, até o momento em que Taylor consegue roubar o bloco de anotações de Zira e escrever seu nome.  Zira o leva para seu laboratório e Taylor escreve toda sua história e sua condição pessoal, relata a viagem espacial, sua origem na Terra e nos Estados Unidos, comenta sobre os seus companheiros de viagem, e a prevalência evolutiva do homem na Terra.
Então, ao passo que Zira quer aprofundar os estudos e os contatos com Taylor, Zaius vê nessa presença e nesse interesse um perigo para a raça primata, e à revelia da cientista, planeja a castração e estudos cerebrais em Taylor, que o levariam à morte ou à idiotização, estancando aquela ameaça aos primatas. Como Taylor ouve esses planos ameaça, ele foge, e no exato momento em que é recapturado, finalmente consegue dizer algumas palavras, agora que recuperou sua voz: "- Tire sua mãos de mim, seu animal imundo", ou algo desse naipe. O espanto dos macacos não poderia ser maior.


Então, ele é levado a julgamento, e nesta corte sua defesa é ridicularizada pelos magistrados, por não ser possível conceber uma "inteligência humana", e Zira e Cornelius ficam a um passo de serem também condenados por heresia, qual seja discordar, ou melhor, por em dúvida o conteúdo do livro sagrado dos macacos, em que todos foram criados à imagem e semelhança do deus-macaco, e que eles representam o topo da cadeia evolutiva.
É muito interessante no filme a argumentação dos macacos, usando em seu favor e contra os homens os mesmíssimos argumentos científicos que hoje ainda usamos em relação aos primatas, contestando a teoria da evolução (o macaco teria vindo do homem), a capacidade de raciocínio do humano - seria um miquinho amestrado, só repetiria argumentos dos macacos. Advogam a possibilidade de conciliação entre a fé a razão, a impossibilidade de algo mais pesado que o ar voar, entre outros argumentos.  Antes da condenação, para evitar uma injustiça, aceitam que Taylor demonstre a sua condição de animal racional apresentando ao conselho o outro astronauta que teria sobrevivido - Landon - mas ao encontrá-lo, Taylor descobre que esse sofreu uma cirurgia cerebral que o tornou um vegetal, impossibilitando a defesa do astronauta.
Condenado, a aplicação da pena fica suspensa até a proclamação do veredicto. Nesse ínterim, Dr. Zaius chama Taylor a seu gabinete, e lhe propõe que conte a sua real história, não essa de nave espacial; aceite os dogmas do "macaquismo", e rapidamente, sob pena de castração e lobotomia. 
Não resta outro caminho: mais uma fuga, dessa vez ajudado pelo sobrinho de Zira (que até então não tinha entrado na história, como diria Drummond), até porque Zira e Cornelius também estão em maus lençóis por defenderem Taylor contra os dogmas da civilização símia.  Nessa escapada, eles se dirigem à caverna descoberta por Cornelius, em que se encontram indícios de uma civilização mais antiga, porém mais evoluída que a atual civilização "macaquiana". 
Perseguidos por Dr. Zaius e seus capangas, conseguem fugir de uma emboscada usando o ministro como escudo "humano", e dentro da caverna, vendo os indícios de uma civilização mais avançada - objetos futurísticos, e uma boneca humanóide que fala - as evidências ficam bastante claras sobre a existência de uma civilização mais antiga e mais sábia.
De qualquer forma, o Estado, a "Macaquidade", o defensor da fé e da história tal como ela é contada, não aceitam tais evidências. Este, ainda refém, para salvar sua pele, aceita que Taylor fuja como deseja, para além da zona proibida, não sem mandar dinamitar a entrada da caverna para obstar que outros conheçam o que há ali dentro, para a manutenção do status quo. 
Assim, Zaius que sabe o que aconteceu na história, liberta Taylor para que ele cumpra seu plano, de desbravar o planeta e tentar encontrar algo para além da zona proibida, dizendo que o humano  encontrará, adiante, nada mais do que o seu destino.

Acompanhado de Nova (uma humana daquelas não evoluídas, mas que se afeiçoa a Taylor, e ele a ela, o que era de estranhar, já que o astronauta aceitara a missão sem volta exatamente porque não conseguia se afeiçoar a ninguém na Terra, e porque a humanidade não era grande coisa, e ele esperava que houvesse algo melhor no espaço), ele sai sem rumo, até atingir a revelação última, então praguejando: "malditos, eles fizeram". Contrariando o espírito do blog, não vou contar qual a revelação. Para quem ainda não viu, a surpresa é absolutamente necessária. Filmaço. 

Spoiler: a falha científica mais gritante, para mim, no filme, é o pequeno espaço temporal que teria possibilitado o surgimento de uma raça inteligente de macacos e o emburrecimento repentino da raça humana (malgrado considerado que houve uma guerra nuclear), porque uma evolução desse naipe, em dois mil anos, é, a meu ver, impossível (um ciclo de mais ou menos 10 milhões de anos levou à especiação do homo sapiens, de pequenos macacos ao homem. De chimpanzés e gorilas atuais, acreditar que em 2000 anos eles possam ter chegado a um estágio que o humano teve aí por volta do ano 1000, ou mesmo, descontando as armas, a um estágio típico de civilizações antigas menos avançadas que Roma, Grécia ou Egito, parece um rematado exagero). 
Mas os raciocínios dos macacos, representando o que há de mais conservador ou anti-científico nos homens, a prevenção contra o outro - contra o estrangeiro, contra o diferente por credo, raça, origem - o anti-cientificismo, a defesa ardorosa da fé contra a ciência (heresias são punidas, tal como várias vezes vimos na história humana), são metáforas ainda poderosas.



Nota importante: o filme conta com roteiro de Rod Serling, o genial criador de The Twilight Zone (Além da Imaginação). Schaffner, o diretor, pôs sua assinatura em Patton, Papillon, Os Meninos do Brasil. 

Nota IMDB: 8. É daí pra mais. Esse filme me agrada muitíssimo. Veja, e logo!

domingo, 29 de janeiro de 2012

THX 1138 (1971), de GEORGE LUCAS - 26.01.2012

THX 1138 (Robert Duvall) vive em uma mundo distópico e subterrâneo, em que tudo é controlado, e as pessoas vivem sedadas para não terem libido, para não se sentirem angustiadas, e assim poderem trabalhar sem angústias, consumir sem dúvidas, viver sem problemas.
Tudo é absolutamente amorfo, as pessoas convivem com outras, em apartamentos, mas não são nada além de companheiros de quarto. Não há amizades, não há inimizades, não há vida social. 
As pessoas confessam suas dúvidas a máquinas que perguntam sobre seus sentimentos, e as pessoas nem conseguem explicar bem o que sentem, e os confessionários igualmente não compreendem os questionamentos, apenas dizem que aquela pessoa é uma benção para as massas, deve continuar vivendo, comprando, trabalhando, e vivendo "feliz". 
Tudo é controlado por um "sistema" central, que tem câmeras em cada apartamento (mais ou menos como as tele-telas de 1984), especialmente dentro do armário de medicamentos sedativos, para controlar se as pessoas não deixam de tomar suas medicações. Igualmente são controlados os sentidos das pessoas (pulsação, respiração, ansiedade), para que bem trabalhe e para que se possa observar se não houve mudança emocional. As pessoas são filmadas em seus ambientes de trabalho.
Quando  LUH (Maggie McOmie), a mulher que divide o apartamento com THX se cansa dessa rotina totalitária, ela deliberadamente resolve parar de tomar a sua medicação, e logo após, sem que THX saiba, troca os remédios deste por placebos.
THX começa a perceber mudanças em si, sem saber por que, e primeiro tem dúvidas, vai aos confessionários, e sabe que algo está "errado". Com o tempo, LUH revela que eles não estão mais sobre o efeito dos remédios, e começam a interagir, a gostar um do outro, a fazer sexo, a amar, tudo de uma forma desajeitada, pois desde o início, desde o nascimento (há cenas em que mostram as crianças sendo sedadas desde muito pequenas), lhes foi tirada a autonomia. 
Facilmente o "grande irmão" pode observar as mudanças em THX e LUX, e logo eles são presos e julgados. 
SEN (Donald Pleasance), que se bem me lembro, era, no início, um dos censores eletrônicos, de alguma forma, ao tomar conhecimento das transgressões do casal LUH e THX (as duas mais graves do sistema, se furtar ao tratamento sedativo e manter relação sexual), interfere para a troca de companheiros de quarto, mas THX o denuncia, e ele também é julgado e condenado.
Então, na prisão, mostra-se uma terapia de condicionamento (alguma coisa como eletrochoques) imposta a THX, para "curá-lo", mas novamente posto em contato com LUH, eles voltam a mostrar afeto entre eles e fazem sexo. A prisão, portanto, é caminho.
A prisão é, descobre-se, um espaço sem grandes, apenas um imenso branco enorme, mas que pelo desconhecimento, pela não exploração do espaço, leva a todos permanecerem, como sempre, conformados. 
Quando THX e SEN resolvem fugir, encontram um holograma (um personagem irreal, portanto, mas irreal até que ponto) que os ajuda a encontrar a saída. 
Mais uma vez dentro do mundo em que viviam, eles iniciam a sua fuga, descobrem que aparentemente LUH foi exterminada, e depois, SEN se arrepende, se vê perdido e pára, deixando THX sozinho em sua empreitada, que inclui a fuga de guardas-robôs meio apalermados, uma perseguição entre carros e motos, para finalmente conseguir atingir a superfície da Terra.
A cena final, com THX já na superfície, filmada do horizonte, com o sol se pondo, mostra o personagem principal parado, por alguns minutos, talvez querendo sugerir que esse admirável mundo novo, de uma novidade ímpar, é um mundo completamente desconhecido, em que THX não tem a mínima idéia do que fazer, mas, que por outro lado, guarda em si todas as possibilidades, toda uma autonomia, todo um futuro imenso e desconhecido.   


Nota IMDB - 6.8. Não sei, é um filme quase inclassificável, seria estranho dar uma nota a um filme tão diferente do que se vê por aí. Diálogos entrecortados, frases inconclusas, raciocínios incompletos das personagens, um raciocínio embotado por drogas. 
Um fotografia toda em branco, com as pessoas também vestindo unicamente branco, de cabeça raspada. Vale a pena ser visto. 

sábado, 28 de janeiro de 2012

A QUEDA DA CASA DE USHER/O SOLAR MALDITO (1960), de ROGER CORMAN - 28.01.2012

Phillip Winthrop (Mark Damon) , noivo de Madeleine Usher (Myrna Fahey), vai ao encontro da mansão da família Usher, onde moram, isolados, a própria Madeleine, seu irmão Roderick (Vincent Price), e o criado manco, de nome Bristol.
Os arredores da casa já são desoladores, uma vegetação ressecada, gases, o portão e os jardins depauperados, a construção em frangalhos, com grandes rachaduras, que durante a noite, parecem aumentar, se mover, fazer a casa ruir aos poucos. Sabe-se depois que esse lugar já foi um oásis de fartura, mas que por algum motivo, a terra virou improdutiva, o lago cristalino ficou fétido.
Lá chegando, Phillip não é bem recebido por Roderick que diz que ele deve deixar a casa imediatamente, pois Madeline está acamada, e ele também tem problemas. Enfim, que os Usher são amaldiçoados, e que a casa, igualmente, em razão de tanto mal que seus antigos habitantes praticaram em vida, está condenada. Roderick padece de uma extrema sensibilidade em todos os sentidos, tato, audição, paladar, visão, e qualquer exagero sonoro, tátil, e tal suscetibilidade lhe causa enorme sofrimento.
Phillip então resolve levar Madeline dali, para Boston, onde, segundo ele, viverão felizes, sem os influxos de seu irmão e da casa. Roderick se impõe ferozmente a isso, porque acredita que é hora de a estirpe dos Usher terminar (mais ou menos como os Buendía de Gabriel Garcia Marquez termina ao final de Cem Anos de Solidão, só por razões diferentes), e assim, o mal inato àquela linhagem também acabe por ali, mas talvez por ter sentimento possessivo-incestuoso em relação à sua irmã.
Madeline, a princípio, concorda com seu irmão, mas acaba por aceitar o convite de seu noivo. Enquanto preparam seu escape, Roderick tem discussão áspera com Madeline e esta "morre". Roderick prepara rapidamente seu enterro, junto a vários outros membros da família que em outros tempos já foram enterrados dentro da própria mansão. Dentro do caixão, enquanto são feitas orações, Madeline move suas mãos, e seu irmão rapidamente lacra a esquife para que Phillip não perceba que sua enamorada está viva. 
Quando Phillip se prepara para deixar a Casa de Usher, resignado, o criado Bristol revela que todos da família são doentes de alguma forma, e descuidadamente menciona catalepsia, o que faz Phillip desconfiar de que Madeline foi enterrada viva, o quê consegue confirmar com a visita ao caixão vazio e após pressionar Roderick. 
Ele sai em sua busca, mas já a encontra alucinada, enlouquecida - era louca ou assim ficou em razão do enterro prematuro? - e  não consegue trazê-la à realidade. Por fim, Madeline ataca Roderick, o estrangula, enquanto a casa rui por completo, morrendo ali a linhagem dos Usher, junto ao mordomo que morre junto com a mansão em a qual trabalhou por 60 anos.  
A casa destruída é o que resta, e o filme termina com a frase de Edgar Allan Poe, autor do livro que serve de base ao filme, de que os restos da casa foram engolidos pelo lago que a circundava.


Neste filme curto de Roger Corman, a atmosfera, a mansão, o suspense são bem construídos, embora o final seja um pouco frustrante, como realização cinematográfica, embora não devamos nos esquecer que na década de 60, os efeitos especiais eram escassos, e que se trata de uma produção de baixo orçamento (só há 4 atores, por exemplo).
Eu adoro filmes de terror, mas hoje já tenho certa dificuldade em sofrer qualquer susto com eles. Não sei se pelo avanço da idade ficamos menos impressionáveis, ou se em razão dos filmes atuais em que o terror meramente sugerido, o suspense foram substituídos por um terror físico e explícito (algo como O Albergue, ou Jogos Mortais) - e muito pior, pois o susto deriva só da violência. Mas imagino que, voltando àquele tempo, e à adolescência, a visão de um filme desse numa sala de cinema poderia causar algum impacto maior. Vale a pena, Price está bem, como quase sempre.
Não é possível chegar a conclusões definitivas sobre a real ou imaginária loucura de Roderick ou de Madeline (aparentemente, "apenas cataléptica"), ou mesmo sobre a maldição da mansão, eis que aparentemente, ela apenas estava descuidada, e a sua destruição deriva de um incêndio provocado nas brigas que concluem o filme. Enfim, muita coisa é sugerida, e cabe ao espectador escolher seus caminhos. Agrada muito mais do que coisas que vemos por aí, que parece derivar de um roteiro escrito por um roteirista de quarta série primária.


Nota IMDB - 6. Acho que é por aí. Um pouco mais, talvez, um 7.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CONSCIÊNCIAS MORTAS (THE OX-BOW INCIDENT - 1943), de WILLIAM WELLMAN - 23.01.2012

Neste filme que se passa em Nevada, em 1885, Henry Fonda  vive Gil Carter, e chega à cidade de Bridger's Wells acompanhado de seu amigo Art/Artie (Harry Morgan - ou algo assim, a dublagem do TCM estava ruim, em busca de sua garota Rose (Mary Hughes), que depois saberá já casada com um ricaço. 
Na região, há um problema de roubo de gado, e a tensão é bem grande, todos são um pouco suspeitos. Quando Kincaid (amigo de Farnley, com que Carter tem uma pequena briga por causa de desconfianças mútuas) é morto, um grupo de patrulha para justiçamento (pela forca) se forma, com a solitária oposição de Davies, um comerciante idoso e estabelecido na cidade, que defende um julgamento justo. Carter e Artie também se opõe à caçada, mas de forma mais tímida. 
A pedido de Davies, Carter vai conversar com o juiz Tyler, este tenta demover o grupo da perseguição a ser empreendida, mas não logra sucesso. A patrulha sai, com o deputy (um assistente do xerife), aparentemente igualmente sanguinário, sem muitas preocupações com a legalidade da  busca e da pretendida execução. 
Logo eles alcançam os alegados três ladrões no desfiladeiro de Ox-Bow: Donald Martin (Dana Andrews), um velho - Halva Harvey (Francis Ford) e Juan Martinez (Anthony Quinn), que se dizem inocentes das acusações de roubo de gado e assassinato. Harvey logo culpa Martinez, para se ver livre da acusação, enquanto Martin insiste na inocência de todos, e que o gado que teria sido roubado foi, em verdade, comprado de Kincaid
A morte se aproxima, pelo julgamento da patrulha de quase 30 homens, quando Martin pede para escrever uma carta a ser entregue a sua mulher, o que lhe é permitido. Davies revela o teor da carta ao Maj. Tetley, o líder da patrulha, achando que pelo teor poderia demonstrar a não-culpabilidade dos acusados, contra o que se insurge Martin, pois a carta era privada, e sua intimidade não poderia ser devassada. Nesse ponto, decidem aguardar pelo amanhecer para a execução (nesse período poderia chegar o xerife para mudar o destino dos condenados). 
Chegada a hora, Carter ainda tenta evitar a execução, mas é frustrado. Na hora da votação, sete homens se opõem a execução, mas são vencidos por larga margem. Duas pessoas são voluntárias para espantar os cavalos de sob o homens, para que fiquem pendurados em suas forcas, e o Maj. Tetley impõe que seu filho seja o terceiro executor, para fazê-lo homem, fazê-lo corajoso, mas este não espanta o cavalo, o que faz que o terceiro homem tenha de, pendurado à forma mas não morto, tenha de ser abatido a tiros.
Tão logo executados os três homens, e a patrulha ruma de volta à cidade, o grupo encontra o xerife e conta a sua "façanha", a execução dos responsáveis pela morte de Kincaid, quando o xerife disse que Kincaid não está morto. Pergunta ao grupo quem foi o responsável pelas mortes, e Davies diz que todos, menos 7. O xerife replica dizendo que deus tenha pena dos homens pelo que fizeram, porque ele não terá. 
A cena final, muito bonita, encontra os homens bebendo no bar, em silêncio envergonhado. 
Carter lê a carta de Martin para Artie (analfabeto), e para os demais homens que bebem em silêncio no bar, todos afetados pelo que acabaram de fazer. Em resumo, dizendo que o homem não tomar a lei em sua próprias mãos, e que violar essa lei é violar todas as leis, pois que a lei é mais do que um texto legal, do que os homens que a operam, mas a consciência de um povo, de  todos, um somatório das consciências individuais, enfim, a expressão da consciência da humanidade, sem o que não há civilização. Carter e Artie então resolvem cumprir a última vontade de Martin, e levar a carta para a viúva, deixando Bridger's Wells como chegaram, sós. Só achei deslocado o "romance" malsucedido de Carter com Rose, e vi apenas uma critica relacionando esse desamor com a decisão de Carter levar à carta até a viúva de Martin


Nota IMDB - 8.2, é por aí mesmo. Um belo libelo pelo devido processo legal, o direito a uma defesa, um julgamento justo, obediência à lei, contra os pré-julgamentos, contra a justiça com as próprias mãos, a um preço que não se pode suportar.  

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O ABOMINÁVEL DR. PHIBES (1971), de ROBERT FUEST - 16.01.2012

Mais um "filminho" com o brilhante-canastrão Vincent Price (Dr. Phibes), secundado pelo ótimo - que já esteve muito melhor em outros filmes, diga-se -  Joseph Cotten (Dr. Vessalius), em que Phibes busca se vingar dos médicos que ele considera responsáveis pela morte de sua esposa (Victoria), sendo Vessalius o cirurgião-chefe que não conseguiu salvar sua esposa. 
O filme começa com um espetáculo musical inusitado, em que Phibes, sem revelar seu rosto, executa uma obra no órgão, para depois "reger" uma orquestra de bonecos, e dançar com uma mulher, assistido por ninguém, apenas (bustos) de outros bonecos engravatados - que aparentemente representam os tais médicos - logo se confirma essa impressão, e após a morte de cada um dos doutores, Phibes lhes desfigura a estátua de cera correspondente e coloca um amuleto - que depois se descobrirá serem representativos das dez pragas de deus aos egípcios, em favor dos hebreus - no pescoço de cada busto.
Começa a sua vingança, e o primeiro é morto com o uso de morcegos (surreal e impossível, me parece), outros com o uso de abelhas, de uma máscara de sapo, um com o sangue totalmente drenado, ratos, etc.  Phibes (músico e teólogo) vai matando seus inimigos de acordo com essas dez pragas.
Após a 4ª morte, pela análise dos prontuários médicos, consegue-se descobrir que a única cirurgia em que estiveram presentes os até então mortos foi a da mulher de Phibes, mas o que não leva a lugar nenhum, isso porque Phibes, em princípio, também já morreu.
Assim, a Scotland Yard tenta descobrir o que está acontecendo, porque se, após a morte de Victoria, Phibes sofreu um acidente automobilístico e morreu carbonizado (eles vão até os túmulos do casal para verificar, e lá descobrem as cinzas de  Phibes, e não encontram o corpo de Victoria), os crimes do ex-marido não seriam possíveis.
As mortes se sucedem até o ponto em que, já mortos 7 médicos (e eram dez as pragas, sobram apenas a praga dos gafanhotos, a da morte do primogênito e a das trevas), restam para ser mortos apenas a enfermeira, o cirurgião-chefe Vessalius, e mais alguém, para a décima praga.
Phibes consegue, malgrado a vigilância dos policiais, matar a enfermeira e seqüestrar o filho de Vessalius, seu primogênito. 
Nesse momento, finalmente, tem-se a certeza que Phibes é o responsável pelos crimes, pois ele entra em contato com Vessalius, e fala com ele (falar é modo de dizer, pois Price não tem uma única fala no filme todo, uma vez que ele, tendo sido vítima de um incêndio, embora não tenha morrido, fica completamente desfigurado, e suas cordas vocais estão destruídas, de modo que Phibes tem um aparelho que, conectado a seu pescoço, reproduz o que seria a sua voz, de um modo meio metálico, sem abrir a boca, apenas movimentando a "papada" - recurso legal), explicitando o seu plano e chamando Vessalius para o lugar onde está.
Ali, Vessalius, para salvar o seu primogênito, tem de operar seu filho no mesmo tempo que Victoria sobreviveu na mesa de operação - 6 minutos - o que Vessalius, afinal, consegue.
Phibes escapa sem saber o que aconteceu com sua pretensa vítima e a seu filho, e vai, com a ideia de que obteve os 9 assassinatos que buscava, para completar a décima praga, "a escuridão", suicidando-se com a retirada de seu próprio sangue e substituindo-o por líquido embalsamador, para então, "sepultar-se" ao lado de sua esposa, também embalsamada, em um túmulo que construiu para que ambos vivessem a eternidade lado a lado.
Quando a polícia chega no local desse último sacrifício, nada encontra, pois Phibes já está, nessa hora, morto e dentro do jazigo que construiu e que se fechou sobre o casal.
Assim, Phibes acha que conseguiu seu intento de vingança e de vida eterna ao lado de Victoria. 


Pequenas notas: a história passa no começo do século XX (em 1925, quatro anos após a morte de Victoria, cuja data - 1921 - pode-se ver no túmulo desta), mas os cenários parecem muito mais modernos, os veículos mais avançados do que os daquela época, algum material plástico que faz o filme parecer retratar outra época. Apenas um detalhe, mas é só uma pequena falha.
Mas, de qualquer forma, o filme tem cenários muito bem cuidados, alguns enquadramentos bastante bonitos, e o filme mistura algum terror (não consigo sentir medo nestes filmes setentistas, muitos deles produzidos por Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson), suspense, alguma graça,  enfim, estes filmes têm alguma coisa muito boa, e que nos atrai, embora sejam eminentemente filmes baratos, produções "B".
Nota IMDB - 7. Acho que menos (um pouco menos). O filme exige que se entenda a lógica desse tipo de película, um terror que não assusta muito, e faz rir um pouco; que traz algum padrão estético (cenários kitsch, gelo seco, atores consagrados no gênero - Price, Karloff, Lorre, entre outros, alguma graça - acho que até ajuda a afastar a censura, histórias simples bem contadas). Vale a pena. Mas não é terror, nem a pau. O filme, para mim, é mais um filme policial com pitadas de fantástico, do que um filme de terror com pitadas de filme policial.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O RETORNO DE JOHNNY ENGLISH (2011), de OLIVER PARKER - 03.01.2012

Comédia despretensiosa com o sempre engraçado Rowan Atkinson (As Férias de Mr. Bean é, para mim, um filme engraçadíssimo), que vive o espião do MI7 (!), que caiu em desgraça e foi demitido do serviço secreto britânico por ter cometido uma falha grotesca, anos atrás, em que permitiu o assassinato do presidente eleito de Moçambique. 
Auto-exilado no Tibet, English vive um período de treinamento oriental, com alguma graça, e alguns ensinamentos orientais que lhe ajudarão quando ele é reabilitado -sabe-se lá por que razão - no serviço secreto.


Reintegrado, ele tem de encontrar um ex-agente secreto  que alerta para um possível atentado contra um mandatário chinês no encontro entre o primeiro-ministro britânico e tal político chino. Ele parte para encontrar esse ex-agente do MI7 - Titus Fischer - em Hong Kong.
Quando encontra Titus, este além de revelar que fora um dos integrantes do Vortex (de um total de três, um da CIA, um da KGB e outro do próprio MI7), menciona que cada um dos integrantes do Vortex tem uma peça de metal que, encaixadas, dão acesso à arma letal do grupo, e sem as três partes, o grupo não existe. Titus é morto logo após entregar sua parte da chave a English. (Titus se arrependeu?)


Aparentemente, quem tem interesse na morte do presidente chinês é um outro grupo de chineses, inclusive uma velhinha que por várias vezes tenta dar cabo de Johnny, disfarçada, causando algumas confusões engraçadas. Esses chineses parecem estar em contato com alguém do MI7, e estão tentando reunir as três partes da chave para agirem sozinhos, e darem cabo do mandatário chinês. Esse grupo que pretende a morte do seu comandante é um ponto não muito claro no roteiro, o que me parece de propósito, para não se entrar em discussões políticas, dando ênfase nas confusões protagonizadas por Rowan Atkinson. Mas me parece uma falha bastante importante.
Incidentalmente, temos Kate (Rosamund Pike), uma psicóloga comportamental, que consegue analisar as expressões faciais de seu objeto de análise para dizer se a verdade está sendo dita, além de conseguir, por hipnose, reconstituir fatos passados não muito claros a nível consciente (ela permitirá ao English rever os acontecimentos havidos em Moçambique). Ela ainda consegue se apaixonar por Johnny. 
Por fim, há Tucker, o novo companheiro de English, que é jovem, meio desligado, mas tem algumas sacadas que o estúpido Johnny não consegue perceber (inclusive percebe muito antes de Johnny que o agente Simon Ambrose é o membro do Vortex infiltrado no MI7). 
Voltando à trama, como vimos, a primeira chave, a que estava com Titus, foi recuperada por Johnny, mas este estupidamente deixou que a surrupiassem no vôo de volta de Hong Kong. A segunda chave, do agente da KGB Karlenko, também é recuperada por English, mas uma vez mais, embora advertido por Tucker sobre a culpa de Simon, entrega a este a tal chave. Simon, de tal maneira, tem as três partes da chave e pode levar a efeito o atentado contra o chinês, e, aproveitando para dizer à sua Chefe (vivida pela X-Files Gilliam Anderson) que o traidor é o próprio English - que passa a ser perseguido.
A chave permite que se tenha acesso a uma substância química que faz com que a pessoa que a ingira tenha seu agir controlado por quem ministra a substância, perdendo todo seu auto-controle, e comandada remotamente, a pessoa drogada efetuaria exatamente o que lhe fosse mandado, inclusive matar alguém.
Assim, fica revelado, inclusive, que o vexame de English em Moçambique foi arquitetado pelo grupo Vortex, e que o tal líquido que dá controle sobre a pessoa foi utilizado no agente que matou o presidente moçambicano, quando Johnny teve sua atenção distraída, naquele evento, minimizando assim (mas apenas um pouco), a responsabilidade de English por tal incidente. 
O encontro sino-britânico, a se realizar numa fortaleza nas montanhas suíças, não terá o concurso de Johnny, pois perseguido por sua própria instituição. Johnny, contudo, dá um jeito de entrar no local do encontro diplomático, e ali, ao desmascarar o plano perante sua chefe e Ambrose, toma por engano o líquido (aqui as gags físicas mais interessantes do filme são vistas) - inicialmente destinado à chefe - que lhe retira o próprio controle, e o põe sob domínio de Ambrose, que controlará English para que este cometa o atentado.
Johnny, usando dos "milenares ensinamentos" tibetanos, consegue resistir parcialmente às ordens de Simon, e esta resistência é suficiente para evitar que o mandatário chinês seja assassinado. Johnny inclusive chega a morrer como efeito secundário da poção química, mas é ressuscitado por um beijo da psicóloga (êta!). E se torna um herói nacional, com direito a ser nomeado cavalheiro, não sem antes meter-se em mais uma confusão com a velha chinesa disfarçada de Rainha da Inglaterra.


Nota IMDB. 6.6. Para o que se propõe a fazer - gags, humor físico de Atkinson, e alguma diversão com um espião atrapalhado, acho que está boa a nota. Não é grande cinema, o roteiro tem umas difíceis de engolir, mas é uma diversão nota seis e meio. Mas quando vejo que As Férias de Mr. Bean recebeu apenas 6, acho que alguma coisa está errada na avaliação deste ou daquele filme. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ALMAS À VENDA (2009), de SOPHIE BARTES - 30.12.2011

Neste filme Paul Giamatti vive ficcionalmente a sua própria vida, atormentada no momento por muitas problemas e questionamentos, e uma crise definitivamente se instala quando ele está ensaiando uma peça de Tchecov, "Tio Vânia", em que ele não consegue encontrar o tom para sua atuação, e o texto denso da peça parece lhe pesar demais, quando ele está confuso com sua vida, com sua profissão, seus vínculos afetivos.
Após ler um artigo na revista New Yorker, a pedido de seu agente, ele vai encaminhado a uma clínica de "armazenamento de almas", para que deixe sua alma guardada por um tempo para se livrar dessas angústias existenciais, desses sentimentos, para que fique mais leve sem seu íntimo.
Sua alma é extraída (e tem o formato de um grão-de-bico, o que frustra deveras o ator) e efetivamente ele se sente mais leve, não tem pensamentos negativos, não reage às mais diferentes emoções, passa a ser indiferente à sua mulher, sua atuação nos ensaios para a peça deixam de lhe ser pesarosos - e passam a ser em verdade uma brincadeira, pouco lhe importando os resultados, e sua atuação resulta cômica, risível, sem nenhum sentimento, pois toda sua densidade se foi.
Então, perdido em seus afetos, e na sua profissão, volta à clínica para recuperar sua alma, que, entretanto, sem se saber como, foi extraviada. O chefe médico da Soul Storage (o bom David Strathairn - Ed Murrow de Boa Noite, boa Sorte, um filmaço, diga-se) oferece uma alma substituta, enquanto a clínica tenta reaver a "verdadeira" alma de Paul. Ele, após relutar, aceita e com opções variadas, escolhe a alma de uma poeta russa, alma que embora não lhe substitua as emoções perdidas, lhe dá alguma sensibilidade, ele chega a dizer que se trata de uma grande alma esta que tomou emprestada, de uma grande pessoa. Com essa alma ele sente uma grande mudança, principalmente na sua interpretação na peça do autor russo, em que atua maravilhosamente. Mas ainda não desiste de reaver o seu próprio íntimo.
Antes já víramos uma cena em que - agora sabemos - uma mulher russa também tentara reaver sua alma, e esta mulher era exatamente a poetisa cuja alma foi "alugada" por Paul Giamatti, e que ao final, por não ter conseguido recuperar sua alma que vendera aos russos traficantes de almas, se suicida.
Mas cresce a curiosidade de Paul sobre o destino de sua alma, a origem da alma que lhe está emprestada, e de como se dá esse comércio de almas - ou tráfico, se preferirmos.
Nesse ponto, fica explicitada (já estava subentendida) a razão no filme da existência de uma Nina, uma mula que é usada para o contrabando de almas da Rússia para os Estados Unidos, e que nesse caso específico, levou (furtada) a alma de Paul Giamatti para a Rússia, sob encomenda da esposa do chefe do tráfico de almas (mas sem que a clínica soubesse desse furto), que deseja ser uma artista de sucesso, ainda que sem talento, só com beleza (em verdade, ela queria a alma de alguém mais famoso, como Al Pacino).
Em sua busca por sua alma, Paul consegue com o médico da Soul Storage informações sobre a mula e o tráfico de almas, e vai atrás de Nina, descobre o que houve, e ruma para a Rússia para reaver seu imo. 
A partir daqui filme perde muito de seu interesse. Em negociação com o traficante de almas, não obtém sucesso; depois, com o auxílio de Nina, furtivamente retira sua alma da pretendente a atriz e a recoloca em si mesmo (não sem antes ter de se reconectar com ela), para então voltar aos Estados Unidos, e ter de viver com "a dor e a delícia de ser o que é".
Quando volta para casa, a clínica Soul Storage sofreu uma intervenção governamental, as almas contrabandeadas foram compradas por uma empresa de gestão de ativos, e Paul, que pretendia devolver à Nina sua alma original (eis que ficou esvaziada para ser usada como mula de almas entre Rússia e EUA), não consegue tal intento por dois motivos: um, porque o preço da alma no mercado não é assim tão fácil de estimar, e Paul teria de pagar alto pelo que deseja; e, dois, principalmente porque Nina não poderia mais receber uma alma, por ter tantos resquícios (resíduos) de almas de outros que seu corpo não mais comportaria toda uma alma. 
O filme é muito mais interessante enquanto somente as questões íntimas de Giamatti (e por extensão, de qualquer um) são trazidas à tela, para alguma reflexão. Como lidarmos com os pesos que nos são inerentes, e se deixarmos de nos preocupar com tudo isso, ainda seremos nós mesmos? E cada um que passa por nossa vida, não deixa um resíduo de si? E o peso da vida de cada um, suas felicidades, suas dúvidas, suas agruras, não são exatamente aquilo que define cada ser humano? E que nossos sentimentos têm um preço, podem ser comprados e vendidos? Podem ser esquecidos? Sei lá se o filme é tudo isso, se apresenta tais questões realmente, mas gostei, achei divertido.
Nota IMDB: 6,5. Nota justa. Talvez um pouco mais.

MISSÃO IMPOSSÍVEL III (2006), de J.J. ABRAMS - 01.01.2012

Um filme razoável, embora eu o ache melhor apenas que o episódio 2 da franquia, aquele dirigido por John Woo. Diversão sem pensar, mas ainda diversão.
Nesse episódio, Ethan Hunt (Tom Cruise) está afastado das ações de campo, treinando novos agentes, e prestes a se casar com Julia (Michele Monaghan), que desconhece completamente a ocupação de seu futuro marido, quando ele recebe a missão de resgatar uma agente do IMF (Impossible Mission Force) que está em mãos de um terrorista perigoso (Owen Davies, vivido por Phillip Seymour Hoffman), a quem fora espionar. 
Nessa missão de resgate na Alemanha, a agente Lindsey Farris (Keri Russell), que foi treinada por Hunt, consegue descobrir algo sobre Owen Davies, principalmente que ele tem um informante dentro do  IMF, mas ela é capturada e morta. Ela manda uma mensagem cifrada a Hunt em que ela apurou que o chefe do IMF, Theodore Bressel (Laurence Fishburne) parece ser o alcagüeta.
Nessa busca, conseguem alguns dados digitais sobre a organização de Davies, especialmente que ele estará  no Vaticano para uma troca importante - ele é um vendedor de tudo quanto for ilegal no mercado internacional - um tal de rabbit foot (pé de coelho).
Com essas informações, Hunt e seu grupo (Ving Rhames, Jonathan Rhys Meyers e Maggie Q) vão ao Vaticano, conseguem seqüestrar Owen Davies, e trazê-lo para os Estados Unidos. Nos EUA, contudo, tão logo começam a fazer seu transporte, um grande ataque contra o comboio é executado, e Davies retirado das mãos do governo. Hunt é imediatamente responsabilizado por esse fracasso (perda do bandido e explosões num grande centro urbano), e responsabilizado por Bressel, o que confirmaria a tese de que Bressel fosse o bandido infiltrado na IMF.
Imediatamente, Davies sequestra a esposa de Hunt e lhe dá 48 horas para que ele consiga o rabbitt foot, que Davies obteria se não fosse sua prisão em Roma; caso contrário, sua esposa seria morta. Ademais, Hunt é preso - enquanto o tempo se esvai -  pela agência e responsabilizado pela tragédia do ataque contra o comboio militar. Dentro da agência, ele recebe ajuda para fugir do agente Musgrave (Billy Crudup), e este ainda avisa que ele deve ir a Hong Kong, para obter o tal rabbit foot. Ali Ethan consegue obter o artefato (o que não é mostrado e para mim o que é uma perda no filme, pois essas cenas de invasão e obtenção de algo são cenas quase sempre muito boas da série MI), e vai em direção ao Davies para fazer a troca doo artefato por sua esposa. 
Ali, Davies resolve que vai matar Hunt e a esposa deste, e ficar com o artefato (que embora tenha a inscrição de biohazard, nunca se sabe exatamente o que é). Com um explosivo miniaturizado, tal qual o que vitimou Farris na Alemanha, ele consegue bater Owen Davies numa briga, matando-o por atropelamento, tomar um choque para desativar o explosivo em seu cérebro, morrendo e depois ressuscitando com uma massagem cardíaca de sua esposa, e ainda ter aconselhado esta a atirar em qualquer pessoa, e ela, uma médica sem qualquer experiência com armas, não titubeia em matar duas pessoas, inclusive Mosgrove, que afinal se revela como o traidor dentro da agência.
Bem-sucedida a Missão, Ethan conta a sua esposa sobre seu trabalho, volta para os EUA, e mesmo perguntando a Bressel sobre o que seria o rabbit foot, este não lhe conta. Ethan sai de férias com sua esposa, não se sabendo se ele voltará ao IMF. E voltará...


Nota IMDB: 6.8. Tá de bom tamanho. Talvez um pouco menos. Filme que se vê sem se aborrecer um só minuto. Uma ou outra falha, principalmente a elipse da invasão ao prédio de Hong Kong para mim faz o filme perder um pouquinho.

domingo, 1 de janeiro de 2012

A HORA DO ESPANTO (2011) - de CRAIG GILLESPIE - 28.12.21011

Se eu pudesse (e eu posso, porque esse blog é meu) escolher o pior filme que já vi desde que comecei a escrever este blog, estaria a escolha circunscrita a dois filmes: Gente Grande e A Hora do Espanto.
Eu vi o primeiro filme, de 1985, e era um filme muito, mas muito bem feito.
Ontem assisti ao remake, e era de uma "ruindade" de doer. Parei na metade para fumar um cigarro só pela raiva que passava enquanto assistia ao assassinato de uma pérola (adolescente) oitentista, a morte de um clássico do terror juvenil ser refeito em pura merda.  
É claro que faz tempo que eu não assisto ao original, e à distância o filme pode me parecer melhor do que realmente era, mas sem dúvidas, o elenco do primeiro filme, com o ótimo Roddy McDowall como Peter Vincent em vez de David Tennant (um Dr. Robert Rey afetado), Willian Ragsdale em vez de Anton Yelchin como Charlie e Chris Sarandon em vez de Colin Farrell no papel do vampiro da vizinhança (Jerry), era para mim, superior aos do remake em todos os papeis.
Além disso, desde o início do filme fica tudo estabelecido, e o filme não terá mais surpresa alguma, só cenas de ação - e parece que é so isso que conta, contrariando tudo que se pode esperar de um filme de suspense ou terror (exatamente o suspense, o terror, o inesperado). 
Em poucas cenas já está estabelecido que o novo vizinho de Charlie é um vampiro, pois  Charlie (aos 16 anos, mas vivido por um ator de 22, vê-se até rugas no ator, retirando já boa parte da credibilidade do co-protagonista), um ex-nerd tem seu amigo também nerd, Ed, que já investigara o novo vizinho, os desaparecimentos havidos em Las Vegas, delimitando o espaço dos ataques, e filmado o vampiro, que não aparece no material gravado.
Assim, Charlie após uma breve descrença na existência do vampiro, já passa a acreditar na sua existência e maldade, e o filme se desenrola sem qualquer necessidade de atenção ou imaginação. Na primeira cena em que Jerry é confrontado por Charlie, ele já explode a casa de Charlie, e faz este, junto de sua mãe e namorada Amy saírem em fuga em uma perseguição de carro. Toda a sutileza e o charme trazidos por Chris Sarandon, em 1985, são absolutamente negados por Colin Farrell neste filme de 2011.
Charlie busca a ajuda de Peter Vincent, um showman de Las Vegas que se diz caçador de vampiros, mas é na verdade um grande embusteiro no mister que já foi de Van Helsing, e apenas um artista. Somente ao final vamos saber que Peter fora atacado por vampiros quando criança, e seus pais foram mortos, mas ele quis viver fugindo dessa verdade por muito tempo. Péssima solução e argumento barato - e sem cabimento algum para o filme, uma solução deus ex-machina.
O resumo do enredo: Charlie é nerd, mas se finge de esperto para mudar de turma no colégio e ganhar uma namorada. Seu ex-amigo nerd Ed descobre a existência do vampiro, mas Charlie inicialmente duvida. Logo, aceita a existência do bichano, até porque Ed é vampirizado. Procura a ajuda de Vincent, mas este nega. 
Quando sua mãe e sua namorada Amy correm perigo, esta principalmente, por ter sido mordida, Charlie resolve encarar o bicho em seu próprio covil, com uma estaca de um santo qualquer que teria o poder de reverter a vampirização de Amy. Depois de um ataque de Jerry e toda a sua trupe de vampiros (aparece uma porrada deles), conseguem matar o vampirão com a estaca e o sol. E todos viveram felizes para sempre (Charlie até vai transar com Amy, assim o filme acaba) - menos quem assistiu ao filme.
Cenas de ação, efeitos especiais nada impressionantes (apenas umas caras horrendas, e alguns até toscos), um filme feito para 3D e assistido em DVD - com perda da tridimensionalidade - atuações abaixo da média e um elenco mal escalado, e uma influência aparente desses novos filmes de vampiro - a que ainda não assisti nenhum, mas vê-se a ideia de pureza do amor (Amy e Charlie são virgens), tal qual se diz existente na série Crepúsculo. Só cenas de ação, sumiram bastante a inaptidão de Charlie, embora um amante de histórias de terror e não um nerd, o medo de Vincent, o talento de McDowell e a sutileza do vampiro. Não gostei nada.
Nota IMDB  - 6,6. Dou um 2 ou 3, e nada mais.