sábado, 4 de dezembro de 2010

A CONVERSAÇÃO - 26-28.11.2010

Um Coppola, de 1974, ao que sei, realizado entre o primeiro e o segundo "Poderoso Chefão", com Gene Hackmann em grande papel, como o "araponga" Harry Caul  especializado em grampos, gravações e filmagens - clandestinas, por óbvio.
A primeira cena do filme, que se definirá como fio estruturante de toda a história, é um grampo feito em uma praça, em que se flagra a conversa de um casal que tem um caso, sendo que a mulher está traindo seu marido. Eles conversam sobre seu relacionamento, sobre a possível reação do marido. Tudo está sendo gravado por Harry Caul e seus asseclas.
Ao se dar conta do conteúdo da conversa, Harry Caul conclui que os amantes correm risco de morte, eis que a gravação está sendo feita, presume ele, pelo marido traído.
Caul, além disso, é atormentado por um trabalho anterior, que causou a morte de alguém, e esse fantasma o assombra, fazendo com que ele queira evitar que sua ocpação redunde em nova morte. Paranóico, metódico, desconfiado, perfeccionista são alguns dos característicos da personagem de Hackmann.
No conteúdo da fita, a gravação demonstra que os amantes marcam um encontro - e Caul presume, mais uma vez, que tendo entregado a fita ao marido traído - uma ponta de Robert Duvall - quando desse encontro os amantes serão assassinados. Harry, então, hospeda-se no quarto ao lado de onde o encontro vai se dar, a princípio - parece - para evitar o crime.
Evidentemente, ele não consegue evitar o crime, mas não o exatamente esperado.
Normalmente, eu fico puto quando há uma virada no filme, me irrita pois brinca com o espectador. Para se criar um twist crível, é preciso saber o que se faz, e não há dúvidas de que Coppolla sempre soube o que fazer com a câmera.
No dia seguinte, ao sair do hotel, imaginando que o casal - ou pelo menos a mulher, pelo que pode presenciar da sacada de seu quarto - foi morto, ele vê a mulher em uma limousine em frente ao hotel, e descobre que, em verdade, quem foi morto foi o marido traído - era o dono e ricaço dono de uma empresa.
Então, ele se dá conta que o casal estava arquitetando a morte do corno. O amante trabalhava na empresa do morto; seu assessor - um papel secundário de Harrison Ford, também, e parecia parte do plano.
Harry Caul fica estupefato, reinterpreta tudo que gravou, e se dá conta que na gravação estava o planejamento do que ia ser feito - o homicídio - e não o registro dos medos do casal.
Harry tenta tomar satisfação - mas logo recebe um aviso: nós sabemos que você sabe, mas você vai ficar quieto; nós estamos gravando você.
Caul fica absolutamente paranóico, e sente sua profissão se voltar contra si.
A cena final, em que Gene Hackmann, paranóico, desmonta/depena todo seu apartamento, retirando todos os quadros, tomadas, lustres, papel de parede, aberturas e até o piso, para ver se não está sendo grampeado é muito boa. Com a casa toda fudida, ele, prostrado, senta-se e toca saxofone - um hobby seu.
O filme expressa a dificuldade em compreender uma mensagem, ou quando menos, compreênde-la adequadamente. Todo mundo só ouve ou escuta o que bem entende. O julgamento do receptor da mensagem por vezes, independente do que realmente é falado. O filme também é um retrato dos anos 70, espionagens, desconfianças - lembremo-nos que dois anos antes do filme Nixon perdera seus cargo por intromissões indevidas. Um filme muito bom.

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