domingo, 12 de agosto de 2012

O SEXTO SENTIDO (1999), de M. NIGHT SHYMALAN - 22.07.2012

Rever um filme cujo final - que é surpreendente na primeira vez - já se sabe tem um pouco da graça diminuída, mas, mesmo assim, vale a revisão, ainda mais quando a primeira vez a que assisti a tal filme foi em seu lançamento no cinema.

Bruce Willis é o psiquiatra infantil Malcolm Crowe, que na noite em que é condecorado pela comunidade da Filadélfia e está comemorando com sua esposa Anna (Olívia Willians), quando têm seu quarto invadido por um ex-paciente de Dr. Crowe - Vincent Gray, em uma caracterização impressionante de Donnie Wahlberg - e Vincent, depois de dizer que o médico não o ajudou, o diagnosticou erradamente, e nunca ter entendido o medo que Vincent sentia em ficar sozinho, dispara um tiro na barriga do médico e logo em seguida se suicida.
Temos então o corte para algum tempo depois (próximo outono) - o que se revela um truque interessante para a seqüência do filme, quando o médico está observando um menino, Cole Sear (Haley Joel Osment), que parece ter problemas parecidos com o de Vincent. No início, Cole é bastante reticente em aceitar ajuda, é um menino recluso, sem amigos, que se considera um anormal, e Crowe não consegue diagnosticar corretamente o problema do  menino.
Com o passar do tempo, Cole começa a se abrir com Malcolm, e após ser importunado por alguns colegas de escola em uma festa de aniversário, sendo trancafiado em um sótão, Cole é internado com trauma psicológico e alguns arranhões. No hospital, conquistada a confiança do menino, este diz ao médico que o seu segredo - e seu problema - é que ele vê gente morta, todo o tempo (I See dead people).  Malcolm então desconfia que o problema de Cole é ainda mais sério do que ele imaginava, que aquele tenha algum delírio paranoico; mas nós, os espectadores, podemos então realmente ver que Cole vê mortos, pessoas que morreram e o atormentam, lhe infligem medo.
Malcolm desiste de atender o menino até perceber que o problema do seu novo paciente pode ser o mesmo daquele que o alvejou, Vincent. Comprova tal suspeita com a escuta das antigas fitas das sessões de terapia de seu ex-paciente, em que há um fenômeno de captação de vozes de pessoas mortas que conversavam com Vincent em um momento em o médico deixou a sala da consulta.

Ao mesmo tempo, Malcolm tenta "resgatar" seu casamento com Anna, que aparentemente vai mal, inclusive um colega de trabalho dela passa a dar em cima dela, mas não é bem sucedido, vemos cenas em que Anna não dá atenção a Malcolm, especialmente a do jantar de aniversário, a que ele chega atrasado, e ela rapidamente deixa o restaurante, apenas lhe desejando "happy aniversary".

A partir do momento em que Malcolm passa a acreditar em Cole, e este lhe conta das experiências sensoriais, de que os mortos têm raiva, por vezes o agridem, Dr. Crowe acredita que os mortos podem estar precisando de ajuda, e então Cole começa a auxiliar os "dead people" que vêm até ele, fazendo cessar as agressões e o seu próprio medo - o episódio da menina envenenada é o mais bem descrito no filme, mostrando a culpa da madrasta, deixando clara a missão de Sear - auxiliar os errantes.
A partir daí, Cole passará a ser um menino normal, que interage com os mortos para resolver questões irresolvidas e, aparentemente, liberando os espíritos atormentados que vagavam pela terra. Sear passa a viver normalmente em seu cotidiano, melhorando a problemática relação com sua mãe (após revelar que fala com os mortos e regularmente mantém contato com sua avó morta e que esta se orgulha de sua filha), bem como em seu cotidiano escolar, onde era um excluído. Essas questões, porém, ainda serão secundárias, de acordo com o que está por vir, não como qualidade fílmica, mas pela surpresa que o filme reserva.

Quem não quiser saber o final do filme - o que considero bastante improvável tanto tempo depois de o filme ter sido lançado - não leia o restante.
Resolvida a questão do menino, Dr. Malcolm volta à sua casa, pois a situação com sua esposa Anna continua em aberto - acolhendo a sugestão de Cole de falar com sua esposa enquanto esta dorme - eles "conversam", falam da falta que um sente pelo outro, até o momento em que Anna deixa a aliança de Malcolm cair no chão, revelando então que o protagonista do filme está morto. Lembro-me de no cinema ter ficado bastante surpreso com a revelação, e que o filme deveria ter encerrado nesta exata cena - impressão que mantenho até hoje, treze anos depois. As cenas subseqüentes, para não deixar qualquer dúvida de que Dr. Crowe estava morto, ele liberando Anna para seguir sua vida sem preocupar-se com o morto, repisando os contatos - ou a ausência deste nas relações entre Dr. Crowe, sua esposa Anna ou a mãe de Cole - mostrando a marca de sangue seco na camisa do médico, ou explicando que os mortos só vêem o que bem entendem - como lhe dissera Cole - mostrando ainda por que ele não conseguia abrir certas portas, tudo para não deixar qualquer dúvida (se é que seria possível) de que Malcolm era uma das das "dead people" avistadas por Cole.

Nota IMDB: 8.2. É por aí, talvez um pouquinho menos. 
Há detalhes interessantes que somente uma segunda visão do filme, permite ver (ao menos para burros como eu), como ver que Crowe nunca troca a camisa com que foi baleado, várias vezes usa o moletom que tinha no dia do homicídio, o esfriamento do tempo cada vez que um morto fica com raiva, ou o destaque dado à cor vermelha em momentos de proximidade com os mortos são detalhes bastante interessantes, típicos da filmografia de Shyamalan que, certamente, tem seu charme e se constituiriam em dicas importantes para que o espectador mais astuto pudesse depreender, mais cedo no filme, que Crowe estava morto - conclusão a que nunca pude chegar na primeira vez que vi o filme. 

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