segunda-feira, 10 de setembro de 2012

UMA NOITE EM 67 (2010), de RICARDO CALIL e RENATO TERRA - 07.09.2012

Documentário sobre o festival da canção de 1967, na TV Record, quando os festivais eram a máxima expressão da cultura musical, e talvez, mesmo da cultura nacional naquela época.
Gostei demais
As imagens de arquivo são muito boas, pelo conteúdo. A qualidade do vídeo, evidentemente, é ruim; são as imagens tremidas e granuladas da televisão da década de 60, mas pode-se ver ali, num corte bastante interessante dos diretores - apresentar apenas as cinco primeiras colocadas (Maria, Carnaval e Cinzas; Alegria, Alegria; Roda Viva; Domingo no Parque e a vencedora Ponteio, da qual nem gosto tanto) e seus respectivos intérpretes, além de Sérgio Ricardo, com Beto Bom de Bola, vaiado incessantemente, que se deu afinal por vencido, quebrou o violão e o jogou sobre a platéia - um bom resumo da importância dos Festivais, da estatura dos artistas de então, da música e da sociedade brasileira.
Havia discussões sérias sobre o que ocorria musicalmente, torcidas organizadas a favor de um ou de outro artista, preconceitos contra a guitarra elétrica favor de uma MPB pura. Houve inclusive, naquela época, uma passeata contra a guitarra elétrica, em outro momento. Discutia-se sobre o esgotamento da bossa nova, a ascensão do rock representada então pela jovem guarda, quem eram os progressistas e quem era o conservador bom-moço (Chico, por óbvio). Enfim, discutia-se algo.
Entrevistas com Paulinho Machado de Carvalho, Zuza Homem de Mello, Chico Anysio, Nelson Motta (que menciona que na época não havia novelas, e os musicais eram então a principal forma de entretenimento televisivo, sua principal atração), Solano Ribeiro (organizador do Festival disse que ele, na época, não era nada mais do que um programa de televisão - AO VIVO, e que somente com o tempo a importância dele aumentou), Sérgio Cabral, afinal críticos, organizadores ou mesmo jurados do festival, além de vídeos da época com os artistas que disputavam o certame e entrevistas atuais destes intérpretes quarenta anos depois do ocorrido (Gil, Caetano, Roberto, Chico, Edu Lobo e Sérgio Ricardo) revivendo o quê houve, a analisando a conjuntura de então, enriquecem sobremaneira o filme. 
Ouvir Roberto Carlos, Caetano, Gil, todos eles com 22 ou 23 anos, se expressando muito bem, falando sobre suas (ótimas) músicas, num português muito bom, com idéias claras, faz um bem danado. Uma juventude então esclarecida e porreta, autores de músicas espetaculares e com conteúdo para, nas entrevistas, exporem seus pontos de vista com clareza e inteligência. 
E não há quem não se emocione ouvindo "Alegria, Alegria", "Roda Viva" ou "Domingo no Parque", em suas primeiras apresentações ao público, arrebatadoras.

Nota IMDB: 7.6. Para mim, vale até mais. Um documentário muito bom sobre a música brasileira, e até sobre o tempo que vivíamos no Brasil. Ter de aguentar "eu quero tchu", ou falar de dodge ram ou de camaro amarelo em músicas, como hoje acontece, fica ainda mais difícil depois de assistir a "Uma Noite em 67".

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