sábado, 4 de fevereiro de 2012

A PRIMEIRA PÁGINA (1974), de BILLY WILDER, 30.01.2012

E é um dos últimos filmes de Billy Wilder (veja o elogio do filme, aqui, no site da Contracampo), e se passa no ano de 1929 (junho).
As primeiras cenas, da linotipia para a montagem da capa do jornal, e depois a impressão do periódico já são muito legais, e mostram um anacronismo absurdo, em nossos tempo de internet, impressão digital, etc, o que, certamente, já era anacrônico em 1974, quando realizado o filme.  
A capa dessa edição que está sendo formatada trata da condenação à morte, pela forca, pelo assassinato de um policial. 


Hildy Johnson (Jack Lemmon) trabalha no Chicago Examiner, onde Walter Burns (Walter Matthau) é o editor-chefe, e o escala para fazer a cobertura do enforcamento do condenado à morte, que se dará na manhã seguinte, mas Hildy nega a requisição de seu chefe, e se demite (o que já estava planejado), pois vai se casar no dia do enforcamento, e aquela rotina de jornalista não permite privacidade, vida própria, tendo inclusive feito fracassar o seu primeiro casamento. Assim, na manhã seguinte, quando Earl Williams (Artur Pendleton) seria enforcado, Hildy já terá largado o papel e a caneta, e viajado para a Filadélfia com sua noiva/namorada Peggy (Susan Sarandon).  
Walter faz tudo para dissuadir Hildy de seu intento demissionário, mas este se mostra irredutível, quando então Walter passa a usar de outras estratégias para impedir que Hildy largue seu emprego, como por exemplo procurar a noiva para dizer que seu enamorado é um bandido e está em condicional.
Quando Hildy vai à sala de imprensa do fórum criminal, onde trabalhava, para se despedir de seus colegas de imprensa setoristas que também davam expediente por lá, cada um para um diferente jornal, uma sucessão de eventos (além da ação de Walter) o fará se atrasar para seu compromisso, à meia-noite - pegar o trem para a Filadélfia. 
Durante o bota-fora com seus colegas, o xerife (vivido por Vincent Gardenia),  acompanhado de um médico psiquiatra,  faz a última entrevista com Earl - o condenado - para aferir a sanidade mental deste e assim confirmar a execução na manhã seguinte. Embora nada parecesse mostrar que Earl tivesse a capacidade de entender seu delito (era incapaz, um simplório, um insano), uma manobra desastrada do xerife (outro idiota) ao entregar sua arma carregada na "reconstituição" do crime, cria a oportunidade para que Earl consiga fugir, após atingir o psiquiatra, levando a arma do policial consigo.
Paralelamente à perseguição que se empreende contra o agora fugitivo por toda a cidade, com as mais disparatadas pistas de onde estaria o assassino (e cenas aceleradas, típicas de filmes mais antigos, ou até de filmes mudos), o xerife e o prefeito estão às vésperas da eleição e estão preocupados com a repercussão da fuga, a não realização daquela morte "moralizadora" e inclusive ignoram um indulto concedido pelo Governador do Estado suspendendo a execução de Earl, pois aquela morte seria importante para a sua continuidade no cargo, e "encaminham" o estafeta governamental (gratuitamente, é claro) a um prostíbulo em que o prefeito era habitué.
Walter usa dos mais abjetos (malgrado engraçados) expedientes para impedir que Hildy de deixar a cobertura do crime: escala um repórter inexperiente, para que Hildy se compadeça dele e o ajude na cobertura, por exemplo.
Então, uma coincidência ajuda Hildy a continuar no caso. Quando ele está sozinho - sem ou outros setoristas - na sala de imprensa, Earl adentra por ali, ferido e com a arma do xerife, atiçando o instinto do repórter Hildy, que se entretém na reportagem, ao mesmo tempo em que vai tentando manter sua deadline pessoal - à meia-noite tem de viajar com sua noiva, e a vai dando tarefas a ela para entretê-la, de modo que consiga fazer essa última reportagem e ao mesmo tempo manter o casamento iminente.
Com acesso a Earl e à arma do xerife, Hildy e Walter começam a escrever a reportagem exclusiva, inclusive enganando seus colegas de imprensa, mais preocupados com seu sucesso do que com a condição do condenado ou com a verdade (um jornalismo eminentemente sensacionalista, variando de tom conforme mais ou menos sério fosse o veículo representado pelos jornalistas que davam expediente naquela sala do fórum, mas que chegam a desprezar os fatos, a ridicularizar a defesa de Earl feita pela prostituta Mollie Malloy, desde que sua história saia), com uma volúpia jornalística ressurgida no repórter, que por ora se esquece de seu casamento (ótima cena de Jack Lemmon insano à máquina de escrever, datilografando numa velocidade absurda a reportagem que desmascararia o xerife e "salvaria" Earl, pedindo cigarros e deixando sua noiva de escanteio).
Quando a manobra de ambos pelo "furo" é descoberta, eles são presos, e a situação do prefeito e do governador parece resolvida malgrado o indulto ignorado, quando, mais uma vez, em coincidências desse filme de humor, o portador do indulto governamental também está preso. Isso porque, às vésperas de uma eleição sempre se dava uma batida nas zonas, para ganhar os votos "família", e por mais uma coincidência, esta batida feita pelo xerife, por falta de comunicação, foi na zona frequentada pelo prefeito. O indulto "esquecido" é então utilizado descaradamente como chantagem contra o prefeito que libera os jornalistas. O indulto finalmente salvará Earl, não por bondade de ninguém, mas apenas por jogo de interesses (tirar Walter e Hildy da prisão; não deixar o xerife e o prefeito enforcarem alguém apesar de um indulto concedido).
Walter, finalmente tem uma crise de remorso, e resolve ajudar Hildy a chegar ao trem para encontrar sua amada, a esta altura, já na estação, pedindo para o xerife atrasar a partida do trem e fornecerr um carro com batedores para levar Hildy à gare. 
Enfim, Hildy consegue embarcar, encontra Peggy, e pela janela do trem, Walter entrega a Hildy um relógio de bolso que ganhara de seu pai, como presente e um pedido de desculpas, e de agradecimento ao melhor repórter que já teve.
Basta o trem sair para que Walter vá ao telegrafista e pergunte qual a próxima estação, dando notícia de Hildy deve ser detido, pois furtara seu relógio.


O filme poderia terminar por aí, e estaria ótimo. O epílogo, explicitando o futuro dos personagens, embora esclarecedor, seria desnecessário, o fim estaria perfeito, igualmente. Mas de qualquer forma, serve para deixar claro o que já parecia claro, que a veia jornalística de Hildy venceu, que voltou a seu emprego, deixando Peggy.
Uma película com muita coisa a ser vista. A sede de notícias, o diferentes meios pelos quais se pode contar um notícia, distorcendo os fatos ou apenas os relatando, as relações pouco puras entre imprensa e poder, o poder corrompido ele mesmo, enfim, vale a pena uma boa olhada neste filme.


 Nota IMDB - 7.3.  É por aí, um filme divertidíssimo. Billy Wilder em ótima forma. 

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