segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O PLANETA DOS MACACOS (1968), de FRANKLIN J. SCHAFFNER - 29.01.2012

Após viajar por seis meses à velocidade da luz, astronautas que deixaram a Terra em 1972,  já percorreram uma distância-tempo que pela diferença temporal causada pela velocidade da luz, significa que na Terra mais de 700 anos já se passaram, e portanto, todos que deixaram para trás já morreram, e nosso Planeta já estaria aproximadamente no ano 2673.


Então, a tripulação hiberna, pois mais um ano seria necessário para a conclusão da viagem, o que nos levaria a aproximadamente 2100 anos decorridos na Terra. Estaríamos, em nosso planeta, por volta do ano 4000 (no painel da nave, ano 3978). Um dos quatro tripulantes morre durante a hibernação, por uma falha no sistema, restando três astronautas nessa exploração do espaço. 


Quando chegam ao destino, pelo local de aterrissagem, na água - deveria ser no seco - e próximos a um deserto, já desconfiam ter algo dado errado, e que o destino imaginado não se concretizou (algum planeta na órbita de alguma estrela da constelação de Órion). Resolvem explorar o lugar e após três dias de caminhada, encontram uma raça de humanídeos, que eles presumem ser algo como a raça humana, embora estes não falem, sejam meramente coletores, sendo muito atrasados na escala evolutiva por nós considerada, e considerado o estágio da civilização na década de 70. 
Logo após esse encontro, os humanídeos sofrem um ataque de uma espécie mais evoluída, com armas, redes, conhecimento da roda, de carroças, uso de cavalos, e para espanto dos astronautas, esses seres evoluídos são macacos (chimpanzés, babuínos e gorilas, sendo, aparentemente, os babuínos os líderes, os chimpanzés uma classe média, de técnicos e intelectuais, enquanto os gorilas são a força bruta).  Matam, aprisionam, enfim, os macacos subjugam completamente os humanídeos, eliminam com um tiro um dos três astronautas e prendem os outros dois, mas em lugares diversos, de modo que os sobreviventes perdem contato entre si. 


Taylor (Charlton Heston) é ferido na garganta e preso. Em sua jaula, serve como objeto de estudo dos chimpanzés Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall), uma veterinária e um arqueólogo-historiador (este que na zona proibida, lá onde caíra a nave humana, encontrou vestígios de uma civilização adiantada, antes do surgimento dos primatas como os mais evoluídos). Taylor, mesmo sem conseguir falar em razão de seu ferimento, consegue demonstrar sinais de inteligência que assombram os macacos, pois a esta altura, estes já identificaram Taylor como um dos humanos subdesenvolvidos que habitam a mata. 
No início, esses pequenos sinais de inteligência chamam a atenção apenas de Zira e Cornelius. Eles tentam alertar Dr. Zaius, Ministro da Ciência e ao mesmo tempo o Guardião da Fé (fé e razão conciliáveis?) sobre esse humano, inteligente. Seria ele um elo perdido na evolução macaco-homem (!), uma mutação? 
Todos são absolutamente reticentes sobre as habilidades do humano, até o momento em que Taylor consegue roubar o bloco de anotações de Zira e escrever seu nome.  Zira o leva para seu laboratório e Taylor escreve toda sua história e sua condição pessoal, relata a viagem espacial, sua origem na Terra e nos Estados Unidos, comenta sobre os seus companheiros de viagem, e a prevalência evolutiva do homem na Terra.
Então, ao passo que Zira quer aprofundar os estudos e os contatos com Taylor, Zaius vê nessa presença e nesse interesse um perigo para a raça primata, e à revelia da cientista, planeja a castração e estudos cerebrais em Taylor, que o levariam à morte ou à idiotização, estancando aquela ameaça aos primatas. Como Taylor ouve esses planos ameaça, ele foge, e no exato momento em que é recapturado, finalmente consegue dizer algumas palavras, agora que recuperou sua voz: "- Tire sua mãos de mim, seu animal imundo", ou algo desse naipe. O espanto dos macacos não poderia ser maior.


Então, ele é levado a julgamento, e nesta corte sua defesa é ridicularizada pelos magistrados, por não ser possível conceber uma "inteligência humana", e Zira e Cornelius ficam a um passo de serem também condenados por heresia, qual seja discordar, ou melhor, por em dúvida o conteúdo do livro sagrado dos macacos, em que todos foram criados à imagem e semelhança do deus-macaco, e que eles representam o topo da cadeia evolutiva.
É muito interessante no filme a argumentação dos macacos, usando em seu favor e contra os homens os mesmíssimos argumentos científicos que hoje ainda usamos em relação aos primatas, contestando a teoria da evolução (o macaco teria vindo do homem), a capacidade de raciocínio do humano - seria um miquinho amestrado, só repetiria argumentos dos macacos. Advogam a possibilidade de conciliação entre a fé a razão, a impossibilidade de algo mais pesado que o ar voar, entre outros argumentos.  Antes da condenação, para evitar uma injustiça, aceitam que Taylor demonstre a sua condição de animal racional apresentando ao conselho o outro astronauta que teria sobrevivido - Landon - mas ao encontrá-lo, Taylor descobre que esse sofreu uma cirurgia cerebral que o tornou um vegetal, impossibilitando a defesa do astronauta.
Condenado, a aplicação da pena fica suspensa até a proclamação do veredicto. Nesse ínterim, Dr. Zaius chama Taylor a seu gabinete, e lhe propõe que conte a sua real história, não essa de nave espacial; aceite os dogmas do "macaquismo", e rapidamente, sob pena de castração e lobotomia. 
Não resta outro caminho: mais uma fuga, dessa vez ajudado pelo sobrinho de Zira (que até então não tinha entrado na história, como diria Drummond), até porque Zira e Cornelius também estão em maus lençóis por defenderem Taylor contra os dogmas da civilização símia.  Nessa escapada, eles se dirigem à caverna descoberta por Cornelius, em que se encontram indícios de uma civilização mais antiga, porém mais evoluída que a atual civilização "macaquiana". 
Perseguidos por Dr. Zaius e seus capangas, conseguem fugir de uma emboscada usando o ministro como escudo "humano", e dentro da caverna, vendo os indícios de uma civilização mais avançada - objetos futurísticos, e uma boneca humanóide que fala - as evidências ficam bastante claras sobre a existência de uma civilização mais antiga e mais sábia.
De qualquer forma, o Estado, a "Macaquidade", o defensor da fé e da história tal como ela é contada, não aceitam tais evidências. Este, ainda refém, para salvar sua pele, aceita que Taylor fuja como deseja, para além da zona proibida, não sem mandar dinamitar a entrada da caverna para obstar que outros conheçam o que há ali dentro, para a manutenção do status quo. 
Assim, Zaius que sabe o que aconteceu na história, liberta Taylor para que ele cumpra seu plano, de desbravar o planeta e tentar encontrar algo para além da zona proibida, dizendo que o humano  encontrará, adiante, nada mais do que o seu destino.

Acompanhado de Nova (uma humana daquelas não evoluídas, mas que se afeiçoa a Taylor, e ele a ela, o que era de estranhar, já que o astronauta aceitara a missão sem volta exatamente porque não conseguia se afeiçoar a ninguém na Terra, e porque a humanidade não era grande coisa, e ele esperava que houvesse algo melhor no espaço), ele sai sem rumo, até atingir a revelação última, então praguejando: "malditos, eles fizeram". Contrariando o espírito do blog, não vou contar qual a revelação. Para quem ainda não viu, a surpresa é absolutamente necessária. Filmaço. 

Spoiler: a falha científica mais gritante, para mim, no filme, é o pequeno espaço temporal que teria possibilitado o surgimento de uma raça inteligente de macacos e o emburrecimento repentino da raça humana (malgrado considerado que houve uma guerra nuclear), porque uma evolução desse naipe, em dois mil anos, é, a meu ver, impossível (um ciclo de mais ou menos 10 milhões de anos levou à especiação do homo sapiens, de pequenos macacos ao homem. De chimpanzés e gorilas atuais, acreditar que em 2000 anos eles possam ter chegado a um estágio que o humano teve aí por volta do ano 1000, ou mesmo, descontando as armas, a um estágio típico de civilizações antigas menos avançadas que Roma, Grécia ou Egito, parece um rematado exagero). 
Mas os raciocínios dos macacos, representando o que há de mais conservador ou anti-científico nos homens, a prevenção contra o outro - contra o estrangeiro, contra o diferente por credo, raça, origem - o anti-cientificismo, a defesa ardorosa da fé contra a ciência (heresias são punidas, tal como várias vezes vimos na história humana), são metáforas ainda poderosas.



Nota importante: o filme conta com roteiro de Rod Serling, o genial criador de The Twilight Zone (Além da Imaginação). Schaffner, o diretor, pôs sua assinatura em Patton, Papillon, Os Meninos do Brasil. 

Nota IMDB: 8. É daí pra mais. Esse filme me agrada muitíssimo. Veja, e logo!

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