terça-feira, 10 de julho de 2012

CAMELOS TAMBÉM CHORAM (2003), de BYAMBASUREN DAVAA e LUIGI FALORNI - 09.07.2012

Este, digamos, "docudrama", nos apresenta o cotidiano de uma família de moradores mongóis do Deserto de Gobi. Quatro gerações de mongóis, vivendo como pastores que se poderia dizer da idade média ou colonos do século dezoito ou dezenove, exceto pela utilização de uma tenda industrializada - e da possibilidade de contato com alguma civilização, mas que vivendo isolados de qualquer comunidade, sobrevivem da criação de ovelhas, cabritos e camelos.
É interessante notar que em seu cotidiano, os ritos familiares tem grande valor, todos trabalham unidos, todos comem unidos, e não se vê brigas naquele ambiente.
Há os idosos (avós e pais), mas que nem por isso deixam de ir ao trabalho, um casal jovem, e mais três crianças, uma pré adolescente, outra de cinco ou seis anos, e uma menininha de uns dois ou três anos. 
Relevante observar que por mais que a cultura do povo mongol - ainda mais de pastores nômades, penso eu, e é de notar que pouquíssimo sei sobre a Mongólia - seja absolutamente diversa de qualquer coisa que os ocidentais possamos conceber, o cotidiano (preparar as refeições, comer, trabalhar, cuidar das crianças, etc) em muito se assemelha ao de todos nós, exceto claro pelos aspectos fisionômicos, modo de vestir, cultura religiosa assim ou assada. As aspirações comuns às nossas também parecem estar ali, latentes.
Parece-me que o mais interessante do filme é o menino Ugna, que com cinco ou seis anos quer começar a fazer parte da família, pede para ir junto com seu irmão pré-adolescente até a aldeia mais próxima, para buscar o músico que participará do ritual para "amansar" o camelo-fêmea. 
Ali ele quer demonstrar que pode participar da vida familiar (e logo, também do trabalho), mas, no caminho, sua meninice se revela em traços perceptíveis para qualquer ocidental (afinal, é uma criança), tal como o desejo de que seu pai compre uma televisão (realizado do final do filme) - embora seu irmão diga que uma TV custaria o equivalente a 20 ou 30 ovelhas, a felicidade por assistir à televisão, por chupar um sorvete, por jogar videogame. 
Sobre a televisão, embora essa seja comprada como se vê no epílogo, o ancião diz ao neto que ela seria desnecessária, pois não teria graça ver uma imagem em um vidro - quer dizer que a vida real é muito mais rica, me parece, ainda que naquele ambiente desértico e inóspito.
O episódio que dá nome ao filme - a rejeição de uma camelo-fêmea a seu filhote, aparentemente pela dificuldade do parto - me pareceu algo menor no filme, embora seja surpreendente que realmente com uma cantoria e o toque de um instrumento de cordas bastante rústico, a camelo-fêmea realmente chore e, enfim, solte o leite e permita que seu filhote seja amamentado. O choro também pode ser entendido como o "choro" do filhote enquanto sua mãe o rejeitava.
Nota IMDB - 7,2. Por aí, um pouco menos, talvez, mas curtinho, deve ser visto.

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