domingo, 15 de julho de 2012

UMA AVENTURA NA ÁFRICA (1951), de JOHN HUSTON - 13.07.2012

Enquanto estão na África o missionário Rev. Samuel Sayer (Robert Morley) e sua irmã Rose (Katherine Hepburn), ambos britânicos, aparentemente tentando catequizar alguns negros africanos, eclode a primeira guerra mundial, e os problemas daí decorrentes serão o mote do filme, junto com o romance que nascerá de circunstâncias improváveis. 
Charlie Allnut (o grande Humphrey Bogart) é um barqueiro que conduz o "African Queen", um pequeno barco a vapor pelos rios africanos, fazendo as vezes de correio, transportador, levando tudo o que precisa ser levado entre as várias aldeias ali existentes. 


Antes de prosseguir, tenho de fazer uma confissão: Katherine Hepburn nunca me conquistou. Em verdade, esse foi apenas o segundo filme em que ela está a que assisti - o anterior foi "Adivinhe quem vem para o jantar", o drama interracial com Spencer Tracy - seu marido ficcional e real. 
Hepburn me parece uma atriz teatral, e não cinematográfica. Seu gestual sempre me pareceu afetado, e, no final da vida, agravado pelo tremor que para mim indicava Parkinson avançado - e segundo muitas fontes, uma espécie de tremor de mãos e cabeça sem relação com os demais sintomas do Mal de Parkinson - me exasperava.
Núpcias de Escândalo, um filme com Cary Grant e Katherine - um grande sucesso a que não consegui assistir em razão da ultrajante dublagem que o TCM providenciou para esse clássico da comédia também me ajuda a não simpatizar com a atriz - o que pode ser uma das razões pelas quais não gostei tanto assim deste "The African Queen".


Voltando ao filme, com a eclosão da guerra, logo uma tropa alemã chega ao acampamento missionário, e destroi as construções, faz prisioneiros os africanos, agride o Rev. Samuel Sayer. Rose fica ali, cuidando de seu irmão que passa a sofrer de problemas mentais/emocionais em decorrência do que houve, até que venha sua morte. Logo após a morte, Charlie chega novamente à aldeia, ajunta a enterrar o reverendo e convence Rose a acompanhá-lo, pois ficar ali para morrer não seria grande ideia.


Duas personalidades distintas então se encontram e terão de arranjar um jeito de conviver. Allnut pensa somente na sobrevivência, e por ele, viveriam nas sombras, escondendo-se durante a guerra. Rose, religiosa, firme, e irresignada com a situação, apela para o orgulho britânico (se bem entendi, Allnut seria canadense e, portanto, também sob a batuta da realeza ingelsa), dizendo que eles devem afrontar os alemães. 
Charlie - que chegara à África para trabalhar na construção de uma ponte e foi ficando - apenas pensando em sobreviver e beber seu gim à vontade (depois de um porre Rose joga toda a bebida fora), seguem no barquinho a vapor, o "African Queen". 


As dificuldades de relacionamento, o barquinho simples a vapor, o encontro com os alemães, e a sobrevivência a tudo isso, vai fazendo o improvável casal entre um homem sem porto e uma mulher inflexível e religiosa (embora sempre pronta a ajudar), tornar-se-á inexorável. Esses dois tão diferentes, suplantando as dificuldades, passarão a se amar e seguirão, por fim, o plano de Rose, de buscar o local em que um barco de guerra alemão estará fazendo sua patrulha. Improvisando torpedos com as cargas que Charlie tem a bordo e não conseguiu entregar em razão da guerra, os dois se emaranham nos rios da África, se perdem em seus labirintos, quase morrem por diversas vezes. Ao final, já imaginando-se sem solução em uma espécie de pântano, onde se resignam ao seu destino, são salvos por uma chuva (e pelas orações de Rose, ao que parece) que revela que estavam próximos ao lago patrulhado pelos alemães com seu vapor "Louisa".


Eles então, com seus torpedos encrustados ao caso do "African Queen", eles partem em direção ao "Louisa" (numa missão suicida, a meu ver), mas dada a tempestade, o pequeno barco dos dois naufraga e, no dia seguinte, ambos, náufragos, são capturados (separadamente), e logo, reunidos, condenados à morte por enforcamento - por crime de guerra - em julgamento sumário. Prestes a morrerem, expressam a última vontade - de casar -  realizada pelo oficial alemão. Na hora exata do enforcamento, o African Queen, naufragado mas apenas parcialmente submerso, é atingido pelo Louisa, afundando-o e permitindo que Charlie e Rose consigam fugir, terminando com sucesso a "aventura na África". 


Eu não captei a beleza ou a relevância do filme, sempre muito elogiado. Me pareceu um filme de aventura bastante comum, e o romance entre duas pessoas já com alguma idade, pouco empolgante. 
Vi a cópia restaurada, e sem dúvida, muitas das imagens africanas são deslumbrantes. As cenas de ação são razoáveis, contudo há muitas cenas (principalmente na corredeiras) em que o barco é visivelmente tripulado por bonecos, e há muitas cenas em que a paisagem de fundo é projetada, a filmagem claramente foi feita no estúdio, e não na locação (dizem que as dificuldades para filmar na África na década de 1950 foram enormes, inclusive livros sobre tal aventura existem). 
Eu que vi The Treasure of Sierra Madre - um filmaço de aventura filmado também dirigido por John Huston - acho esse Uma Aventura na África bem menor. 
Acredito que o título original "african queen", além do nome do barco, é também uma referência à personagem Rose, uma mulher dura, cheia de regras religiosas, e que mesmo tenha seu coração amolecido pelo vagabundo marinheiro interpretado com alguma graça por Bogart (que inclusive ganhou o Oscar por esse filme), mantém sua conduta altaneira, passando a conduzir o bote, impondo suas convicções, ajudando nas mais difíceis tarefas - por exemplo, a reforma da hélice e leme da embarcação, sob a água. 
Talvez o amor tardio, entre duas pessoas tão diferentes, talvez um erotismo que não tivesse sido ainda visto no cinema (não tenho certeza disso), inclusive com os protagonistas em pudicas roupas de baixo, tudo isso tenha tido importância a seu tempo, mas que no cinema atual não despertam qualquer sobressalto, pois comuns.


Nota IMDB - 8. Dou um 6. 

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