domingo, 8 de julho de 2012

OLHOS DE SERPENTE (1998), de BRIAN DE PALMA - 04.07.2012

Penso que assisti a esse filme umas duas vezes antes de novamente olhá-lo ontem, e gosto do filme, que tem baixa nota no IMDB. Na verdade, gosto muito da primeira metade do filme, depois o negócio degringola bastante.
Nicholas Cage é Rick Santoro, um policial corrupto de Atlantic City. Em uma luta de boxe pelo título dos pesados, o Secretário de Estado da Defesa é assassinado, ainda que contasse com segurança de militares, sob a supervisão Kevin Dunn (Gary Sinise)

A câmera do cineasta De Palma no início do filme é espetacular. Ela inicia com uma repórter do tempo fora do ginásio em que se dará a luta, acompanha a entrada do Secretário, seu segurança Dunne; o flanar de Santoro, que se encontra com um bandido que lhe deve uma propina, com o bookmaker que faz suas apostas, com o próprio campeão Lincoln Tyler, e finalmente com Kevin Dunn, que além de segurança do Secretário de Estado é, o melhor amigo do policial corrupto de Atlantic City. 
A câmera ainda continua, como se sem cortes ou com estes bem disfarçados, e acompanhamos uma ruiva que chama a atenção de Dunn, fazendo com que este deixe o seu local, exatamente em frente ao do Secretário, o que será determinante para o assassinato.


A esta altura, a luta já está acontecendo. Uma loira aparece, cochicha algo com o político no exato momento em que o campeão é derrubado pelo desafiante, e no alvoroço do knock down, o Secretário é atingido mortalmente por tiros, enquanto a "loira" perde sua peruca, seus óculos, e é atingida no braço, mas escapa. 
Kevin Dunne, que por ter ido atrás da ruiva, estava do outro lado do ginásio, ao lado de onde saíram os disparos, mata o "terrorista" que assassinara o político. 


Contudo, os tiros iniciais, direcionados ao Secretário fazem com que o campeão nocauteado abra os olhos para ver o que aconteceu, detalhe que é notado por Santoro. Logo ele vê que algo anda errado e o nocaute fora forjado para encobrir o crime. Contudo, com essa momento, o filme está também prestes a deixar de ser ótimo entretenimento para abraçar o fracasso. 
Ainda há alguns bons momentos na procura pela loira (da peruca) - Julia Costello (Carla Gugino) - com mais um travelling "por cima" de Brian de Palma.  Mas improbabilidades como a câmera que gravou o assassinato por acidente, o diálogo sem nexo do final, que pressupunha uma afogamento anterior, que ao cabo não foi filmado (ou cortado na montagem), a inverossimilhança no tratamento entre os ex-amigos, a surra que Santoro toma do boxeador campeão derrotado (tenho a impressão que naquela exata cena o Cage se tornou definitivamente o canastrão que ainda é hoje, talvez a surra tenha sido de verdade) começam a irritar. 
Já pelo meio do filme, Cage já descobre que Dunn está por trás da morte do Secretário - em razão de discordâncias sobre um sistema de defesa aérea (e Julia mostraria ao Secretário que o sistema era falho). 
Vê-se nesse momento mais uma demonstração de estilo do Diretor, recontando a história com os detalhes que não tinham ficado claros (digamos, o outro lado da câmera, bem feita também, revelando como foi arquitetado, dentro do ginásio, o atentado ao Secretário de Estado). 
Contudo, a partir da descoberta prematura da conspiração, o filme deixa de ser um filme policial, de busca e descoberta do culpado, para se tornar uma caça e rato entre os ex-amigos e a discussão do estranho motivo para o crime, não sem desconsiderar que Santoro era um corrupto, com o que Dunn contava, em caso de ser descoberto, com a complacência de um policial que levava dinheiro. E o filme vai à lona. 
Snake eyes é uma expressão americana para o zero-zero da roleta, em que todos perdem, só a casa ganha. Primeiro, Santoro arca com as conseqüências de não se render à chantagem de Dunn, e este diz que seu amigo perdeu tudo e será morto; ao final, Dunn, prestes a matar o policial e a testemunha e assim limpar qualquer evidência contra si,  dá de cara quase que inexplicavelmente com a polícia na saída do ginásio, ainda tenta dar explicações, e pela última vez pedir o auxílio de Santoro, sendo a hora do personagem de Cage responder com a tirada do snake eyes: apostou tudo, perdeu tudo.
No epílogo (apressado), Santoro, corrupto assumido, tem seus dias de glória por ter decifrado o golpe (e por várias vezes disse que seu plano era de prefeito), vira herói, até o momento em que seus "pecados" surgem e sua reputação vai para o vinagre. Essa ideia me é simpática, que o sujo sempre pode querer passar por impoluto, e a queda é inevitável ou, ao menos, previsível. O caso Spitzer, por exemplo.
O final, constrangedor, como Rick Santoro condenado a 18 meses de prisão, encontra-se com Júlia em frente ao ginásio, estes conversam sobre alguma coisa (inclusive o papo do afogamento), e ela promete esperá-lo para após a detenção. 


Nota IMDB - 5,8. Poderia ser um pouco mais, pelo brilhante começo e mais algumas boas sacadas de câmera e montagem, mas a história decepciona. Fico por aí. 

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