domingo, 15 de abril de 2012

OPERAÇÃO FRANÇA II (1975), de JOHN FRANKENHEIMER - 07-08.04.2012

Agora "Popeye" Doyle (Gene Hackman) está em Marselha, mas ainda atrás de Charnier, interpretado por Fernando Rey, o traficante de heroína que lhe escapou em Nova Iorque - e agora sabemos como, pois Charnier revela que tudo se deu em razão de subornos pagos a agentes de polícia americanos. 
Ele vai à França numa "cooperação" com os policiais franceses (Barthelemy - Bernard Fresson - à frente) que, como se verá, não estão nem um pouco a fim de receber a cooperação, e tampouco interessados em cooperar com Doyle. Aliás, o histórico truculento de Popeye é um grande empecilho a que os policiais franceses confiem no policial americano.
Popeye não pode usar arma na França (embora logo ele desobedeça a tal ordem, tendo levado uma mala escondida no forro de sua mala), não pode entrar em ação - e a primeira vez que age já causa a morte de um policial francês. Esse deslocamento de Popeye, um tira eminentemente físico (com cinco mortes nas costas, duas de policiais), truculento, obsessivo e violento, em contraste com uma polícia francesa mostrada como observadora de uma civilidade muito maior já se mostra bastante interessante.
O que Hackman não sabe é que ele foi mandado à França como uma isca para a prisão de Charnier, e não para realmente auxiliar nas buscas da polícia francesa. Hackman fica vagando pela cidade, na esperança de cruzar com seu inimigo - e tendo a segurança à distância de dois policiais franceses - o que efetivamente ocorre, com o único contratempo de que apenas Charnier o avista; Popeye não sabe que seu inimigo está ali.
Quando finalmente Doyle consegue se desvencilhar de sua guarda particular, é então sequestrado e mantido em cativeiro em um hotel pulgueiro por comparsas de Charnier, e este exige que o policial lhe conte o que faz ali e os planos da polícia, mas diante da negativa de Popeye, resolvem injetar-lhe heroína a fim de que este fale - ou, no mínimo, para que fique incapacitado pelo vício na droga. 
Popeye resiste a contar o que sabe, mas não ao vício na heroína. A sua resistência inicial logo vira apenas uma necessidade da droga, e ele sequer resiste ou tenta escapar, pois precisa da heroína.
Como o cerco policial - com buscas intensas por parte da polícia francesa - incomoda os negócios (tráfico) da quadrilha de Charnier, estes resolvem "devolver" Doyle à vida, largando-o de um carro em movimento em frente à Delegacia, praticamente morto por uma overdose. 
Tem início então, logo após a "ressureição" de Doyle, com lavagem estomacal e outras medidas de primeiros socorros, uma lenta recuperação do policial americano contra o vício que lhe foi imposto, e vê-se que o vício inclusive superou a vocação policial de Popeye, que faria qualquer coisa por mais uma dose. Some-se a isso que a recuperação do policial não pode ser acompanhada por um médico, sob pena de além de a operação policial ser desmascarada, criar-se um grande escândalo em razão da existência de um policial americano na França estar viciado em heroína. À lenta recuperação da dependência - que afinal tem êxito - soma-se a recuperação física de Popeye, devastado pela droga. A recuperação de seu físico, de sua força, de sua violência, fazem parte da recuperação da sua essência. 
Finalmente recuperado, volta a vagar pelas ruas, buscando encontrar o Hotel Tanger, em que ficou "hospedado". Ele não revelara a ninguém que, ao ser seqüestrado, conseguiu identificar o local de seu cativeiro, e, finalmente, ao se deparar com o local, avisa seu companheiro francês (Barthelemy) para vir a tal lugar, e trazer consigo bastante água.
Doyle, então, causa um incêndio enorme no local - e como é dito no filme, se trata de uma área pobre de Marselha, a parte árabe, e as construções parecem um grande cortiço. Logo, o fogo se espalha não só pelo hotel mas pelas redondezas, e quando chega o reforço policial francês o lugar já está ardendo em chamas. Alguns poucos são presos, os mais importantes da quadrilha conseguem fugir. Doyle então é instado pelo Chefe de Polícia a entregar seu passaporte e voltar para os Estados Unidos. 
Contudo, Barthelemy se arrisca e reincorpora Doyle à investigação (inclusive lhe entregando uma arma), que chega ao cais de Marseilles - onde houve um descarregamento de drogas em que os bandidos conseguem sumir com a droga e quase matar afogados os policiais, e daí surge uma implicação  do navio holandês e seu capitão no tráfico - que no entanto não é preso pois Popeye convence o policial francês que é melhor esperar em vez de prender o capitão, pois o pagamento ao marinheiro holandês pelo transporte da droga ainda não foi feito: follow the money. Monta-se uma tocaia, para esperar que algo aconteça, até que um dos comparsas de Charnier finalmente vem ao navio, e dali sai, iniciando-se uma grande perseguição a pé, com vários policiais envolvidos e agindo dissimuladamente pelas ruas de Marselha, cenas muito bem feitas, que criam uma ansiedade no espectador, pela resolução daquele conflito. 
Depois da longa perseguição (para mim, de longe a melhor parte do filme), conseguem os policiais chegar ao local em que a heroína é processada e embalada em latas de sopa, para ser remetida aos Estados Unidos. Mais uma vez, troca de tiros, mortes, prisões apenas dos operários do tráfico, mas Charnier consegue novamente se evadir. Mas, desta vez, Popeye não quer ser enganado como fora nos EUA, e vai em seu encalço. 
Charnier foge de táxi, de trolebus, enquanto Popeye corre, a pé, desesperadamente tentando evitar que Charnier desapareça de sua visão. Finalmente, o traficante consegue escapar em seu veleiro, e Doyle só o vê à distância, dando a impressão que sua presa escapou, uma vez mais. 
Contudo, enquanto o veleiro vai deixando o interior do porto, navegando lentamente, Popeye segue correndo pelas docas, acompanhando à distância a embarcação, tentando manter-se próximo de onde está o barco, sempre o visualizando. Por fim, extenuado, mas a uma distância não muito grande do barco, Popeye Charnier emergir na popa do veleiro. Saca sua arma e chama por seu inimigo, que o encara e quase não acredita na presença de seu perseguidor. Dois tiros finalmente põem fim a Charnier

Nota IMDB - 6.7. Vale muito mais. Um filmaço. Nota 8, pelo menos para mim. Popeye servindo como isca da polícia francesa para pegar Charnier, a adição em heroína, a rebordosa, a limpeza do organismo para Doyle se livrar do vício, além de algumas pitadas de bom humor - a piada do primeiro de abril que engana a polícia francesa com uma pista falsa de que haveria droga dentro de uma carga de atum -, além da ótima cena de tocaia e perseguição por policiais franceses à paisana fazem desse filme ótima diversão. Vale a pena.

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