terça-feira, 16 de novembro de 2010

JFK: A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR

Oliver Stone, como quase sempre ao filmar, primeiro fixa seu norte, sua convicção, e então faz um filme que plasme na tela as suas convicções. Quase sempre, igualmente, tem uma maneira interessante de contar a história - sim, muitas vezes trata da História não sendo um mero contador de estórias - do jeito que a entende.
Nesse JFK, analisando o assassinato do então presidente americano John Fitzgerald Kennedy- que só no Brasil teve como subtítulo "a pergunta que não quer calar" -, traz uma série de dados interessantes que, contudo, não tenho como avaliar se realmente retratam fatos não investigados - ou investigados mas não relatados ou sonegados ao final da investigação pela Comissão Warren - presidida pelo Chief of Justice Earl Warren (Presidente da US Supreme Court) , sobre o assassinato do Kennedy, ou se nada mais são do que hipóteses e maquinações elucubratórias do cineasta ou do District Attorney Jim Garrison (eu conheço os promotores um pouco, e às vezes, eles têm imaginação bastante fértil).

No filme, dá-se por certo que Kennedy, atravancando interreses variados - os mais explícitos o do complexo industrial-militar que se opunha à retirada das tropas americanas do Vietnã, e que com isso causaria grandes prejuízos econômicos e de poder àquela turma - deveria ser eliminado, com a assunção do poder pelo vice Lyndon Johnson, um presidente mais receptivo às idéias dos conspiradores,  tanto que logo após assumir o ofício, edita atos legais que aprofundam severamente a Guerra do Vietnã. Se considerarmos que Kennedy pretendia iniciar a retirada das tropas já no ano de sua morte, em 1964, a evidência de que a guerra seguiu até 1970 dá alguma substância à tese conspiratória.
Nesse bololô, entrariam a CIA, o FBI, a Máfia, a Presidência da República, os lobbies da indústria.

São apontadas também razões para o assassinato  decorrentes da conflituosa relação entre EUA e Fidel Castro, em Cuba, aliado da URSS. Que o fracaso da tentativa de invasão americana na Baía dos Porcos não deveria ser repetido, razão pela qual Kennedy desbaratou todo um aparato paramilitar de anti-castristas, que planejava nova invasão e destituição de Fidel do Poder.
Nesse grupo anti-castrista é que se localizariam os principais personagens operacionais do plano, dentre eles Clay Shaw, David Ferrie, Lee H. Oswald, entre outros. Os arquitetos do plano ficam apenas subentendidos.

Refuta-se por completo a teoria do "alone man", dando-se por impossível que Lee Oswald tivesse agido sozinho, quer pela impossibilidade de de disparar três tiros em tão pouco tempo, quer pela possível origem dos tiros não apenas do prédio em que Oswald estava, mas também por detrás da cerca. Igualmente a análise cronológica do atentado, a hora dos tiros, a movimentação de Oswald, o tempo (rapidíssimo) da notícia culpando o nosso atirador solitário, tudo levaria a crer, segundo Stone, que o rapaz foi um bode expiatório - logo sacrificado pelo tiro de Jack Ruby - que tinha ligações com a Máfia.
É um bom thriller político, que mistura elementos de filme policial, de filme de espionagem, e de filme de tribunal - a parte final é o julgamento do caso Clay Shaw (Clay Bertrand), acusado pelo D.A. Jim Garrison de conspiração para o assassinato do Presidente.
No julgamento - e é bem razoável a conclusão dos convocados - os jurados acreditam na tese da conspiração, mas não conseguem ver responsabilidade de Shaw.

As teorias da conspiração encontram, em mim, um cético, mas vai lá que o filme seja a realidade: como se alerta no final do filme, os vários documentos sonegados à investigação, à imprensa, e não constantes do relatório da Comissão Warren, só serão levados ao conhecimento público daqui a uns 20 anos (quando o filme foi feito, tal prazo era de uns 40 anos).
É um filme bastante longo, mas que vale a pena ser assistido. FADE OUT. END.

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