quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CINEMA PARADISO (1988), de GIUSEPPE TORNATORE - 26.10.2011

Eu vi esse filme, pela primeira vez, há muito tempo, e agora adquiri a coleção de cinema europeu da Folha de São Paulo, que embora pareça meio desigual - isso porque não conheço alguns filmes, tem algumas peças espetaculares.
Quando compro um filme em DVD acabo por preguiça não o assistindo, porque tá ali, à disposição, e aí não o vejo logo.
Mas como tô de férias, e sem SKY, a solução foi ver alguns dos filmes, e que boa solução.

Cinema Paradiso é um filme muito bonito. Acompanhamos três fases distintas da vida de Totó - a criança fascinada por cinema que aprende tudo sobre o cinema, a vida, com Alfredo (Phillipe Noiret), um senhor que é o projecionista da sala do Cinema Paradiso em uma pequena cidade italiana - Giancaldo; o adolescente apaixonado, e o homem feito que retorna à cidade para rever algumas coisas de sua vida e acertar-se com seu passado.

O filme inicia com Totó já homem feito, por volta dos 50 anos de idade, cineasta famoso, que recebe um telefonema dando conta da morte de Alfredo. Dá-se então toda uma regressão no tempo, sentimental e memorialista, com Totó lembrando-se de sua infância e adolescência, para, finalmente, regressar a Giancaldo para as exéquias de seu amigo.

Quando pequeno, Totó (então Salvatore Cascio), uma criança bastante inteligente, orfão de pai - morto na guerra - tudo negligencia (em casa, por exemplo, gasta o dinheiro do leito de sua pobre família para comprar ingresso) para ir à sala de projeção, ver os filmes, e ficar observando o trabalho de Alfredo, com ele conversar e tirar grandes lições.
Quando um incêndio destroi o Cinema Paradiso (as películas eram altamente incendiáveis), na ânsia de apagar o fogo Alfredo sofre queimaduras e perde a visão.
Um cidadão de Giancaldo que ficou rico na loteria esportiva então reconstrói o cinema - o Nuovo Cinema Paradiso - e contrata Totó, ainda criança, para ser o novo projecionista.
Alfredo, mesmo cego, volta a freqüentar a sala de projeção, e continua sua amizade com Totó, dando-lhe amizade e ensinamentos para toda a vida.
Num corte bem feito, Alfredo passa as mãos sobre o rosto de Totó criança e então já o vemos adolescente, mas ainda projecionista do cinema, e Alfredo envelhecido.
Totó se apaixona por uma menina que chega a Giancaldo - filha do novo gerente do banco, e então passa a perseguir o amor desta, vendo sua atração retribuída somente depois de muito sacrifício. Não fosse isso, tão logo o pai da moça descobre o romance, faz de tudo para dificultar o encontro dos dois, terminando por obter êxito em afastá-los definitivamente, levando a moça a um lugar não sabido. Achei essa, definitivamente, a parte mais fraca do filme, mas que não chega a ser ruim, com exceção do momento em que Alfredo, já acamado e sem vontade de fazer grandes esforços, chega a Totó e o aconselha a partir de Giancaldo e nunca, nunca voltar, não olhar para trás, sequer telefonar, e seguir sua vida e seus sonhos. Ainda lhe diz que se ele retornar que não o procure, que entnão não será recebido.
Totó, com efeito, até o telefonema dando notícia da morte, vive sua vida de cineasta famoso, muitas mulheres em romances de curta duração, sem voltar ou tratar de sua cidade natal. Termina a regresão e chegamos ao Salvatore adulto voltando a Giancaldo.

Ali, pela primeira vez, se reencontra com sua mãe desde sua partida, com as personagens que fizeram parte de sua vida, o louco da praça, o dono do Nuovo Cinema, o lanterninha do cinema, o casal que se conheceu durante os filmes, etc.
O cinema fechou, os vestígios mostram que antes do seu fechamento houve uma decadência (filmes pornô foram as derradeiras atrações) como acontece por todo lugar, mas a cidade - por mais que tenha mudado - continua a mesma, ao menos afetivamente, e que as origens de qualquer um, por mais que delas tenha tentado se afastar, continuam.
Finalmente, Totó após acompanhar o cortejo fúnebre, a demolição do prédio do cinema, vai à casa de Alfredo, e a mulher deste lhe entrega um presente, uma lata de filme.
Voltando para onde mora, Totó pede que o projecionista passe o tal filme, e ali constam todos os beijos que foram cortados das projeções, por intervenção do padre de Giancaldo, e que eram, portanto, sonegados do público, num trabalho meticuloso (colar pequenos trechos de filmes), carinhoso, e feito por um cego, numa demonstração de afeto espetacular, em cena muito bela.
Memória, amizade, o cinema em si mesmo e os valores afetivos que tal arte pode criar em cada indivíduo, as memórias de cada qual na vida e no cinema, a vida em retrospectiva, os afetos deixados para trás em sua vida. Há muito a ver e pensar com este filme.

Nota IMDB - 8,5. Não sei se é pra isso tudo, mas entre 7,5 e 8 (e já é grande nota), e vale. Gosto muito desse filme.

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