terça-feira, 22 de novembro de 2011

FARSA TRÁGICA (1964), de JACQUES TOURNER - 21.11.2011

Mais um filme do elogiado Jacques Tourner (A Morta-Viva), esse com um elenco estreladíssimo, com Vincent Price, Peter Lorre, Boris Karloff e até talvez o mais tradicional todos os Sherlock Holmes (Basil Rathbone), vivendo um papel bastante diferente.
O filme começa muito bem-humorado, em um enterro em que os coveiros vividos por Vincent Price (Waldo Trumbull) e Peter Lorre (Felix Gillie), fingem sentimentos compassivos pela morto e sua família, agem de forma meio ensaiada, com expressões semelhantes, mas tão logo os convidados deixam o local, rapidamente despejam o corpo na cova, sem o caixão (para economizar a esquife), e tampam o morto em alta velocidade, com uma música apropriada a filme cômico e com imagem acelerada, para logo saírem dali e garantirem o lucro da economia de um caixão, ficando logo circunspectos na condução do carro fúnebre (evidentemente, para não passarem uma impressão "equivocada" sobre sua seriedade de agentes funerários).
É interessante como enterros dão um bom começo de filme ou, pelo menos, permitem o desenvolvimento de uma boa trama. Lembro-me, rapidamente, de "A Vila", em que o enterro permite dar a noção dos problemas da Vila - isolamento do mundo exterior; Enterro Prematuro, que permite explorar o terror de Ray Milland em ser enterrado vivo; O Homem que Amava as Mulheres, do Truffaut, que permite ver a influência de Bertrand sobre as mulheres, entre tantos outros: Enterrado Vivo, Frankenstein, de James Whale, por exemplo.
Os créditos inicias assemelham-se a créditos de um filme de faroeste, e uma música como se de vaudeville continuam a dar a nota de comicidade-horror que parece acompanhar esse filme.
Bem, o filme chama em inglês The Comedy of Terrors, ou algo como "A comédia do terror ou dos terrores", e o filme é mais cômico do que assustador, e bastante engraçado.
Trumbull (Price) e Mr. Gillie (Lorre), que trabalham juntos na casa funerária que Trumbull assumiu em lugar de seu sogro ancião, surdo e aposentado (Boris Karloff, que vive Amos Hinchley - a quem Trumbull tenta repetidas vezes matar, ministrando veneno), estão à beira da falência, e devem mais de um ano de aluguel a Mr. John Black (Basil Rathbone), e para conseguir algum dinheiro, precisam de clientes. Para consegui-los, vêem como única maneira passar a matar pessoas, por iniciativa de Price e contrariedade resignada de Lorre, para que seus serviços funerários voltem a ser necessários.
A primeira tentativa dá errado, porque embora consigam efetuar o assassinato, a viúva dá-lhes um golpe, e malgrado tenham que efetuar o enterro, não conseguem cobrar, pois esta foge com o dinheiro do defunto.
Então, resolvem, com uma só paulada, matar dois coelhos. Trumbull resolve matar o Mr. Black, para assim receber o dinheiro das exéquias bem como para se livrar de seu senhorio, de suas dívidas de aluguel.
O plano não dá muito certo porque Mr. Black teima em não morrer. Ele tem catalepsia, e então, por duas vezes, mesmo quando o dão por morto, ele acorda de sua letargia, uma dentro da casa funerária do Trumbull e Gillie, outra já em seu jazigo, do qual é retirado por Joe E. Brown (o ator que diz a famosa frase final de Some Like It Hot: "Nobody's perfect").
Paralelamente, a esposa de Trumbull - Amaryllis - uma cantora fracassada de ópera, a quem o marido trata terrivelmente mal, e diz só aguentá-la por causa da bebida - se aproxima de Gillie (que tem muita pena do tratamento a ela dispensada por seu patrão), para ao final, fugirem juntos. 
Mr. Black tem uma fixação por Shakespeare e recita incessantemente falas de Macbeth, inclusive a talvez mais famosa, que a vida não é nada além de uma sombra andante, um pobre ator sobre um palco, é um conto contado por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada.
Ao fim, Mr. Black, adequando sua conduta às falas shakesperianas de vingança contra Macbeth, vai ao encontro de Trumbull para se vingar daqueles que tentaram matá-lo, ou mesmo sem matá-lo, quiseram enterrá-lo. 
Trumbull consegue defender-se de Black, dá-lhe tiros; asfixia sua mulher; fustiga Gillie com uma barra de ferro, e vê-se em problemas com aqueles "mortos" a sua frente, resolvendo fingir-se também de violentado, acossado por algum terceiro agente. Hinchley (Karloff) vê aquela cena, pensa que Trumbull está doente, e lhe ministra o veneno que por várias vezes seu genro tentara lhe impingir dizendo ser um remédio, e assim, Hinchley, querendo ajudar Trumbull, o mata.
Ainda há tempo para Black, mesmo alvejado por tiros, dar sinais de que ainda não morreu, enquanto Amaryllis e Gillie, efetivamente ainda vivos, seguem seu caminho.
Lorre, conhecido por personagens soturnos (M, o Vampiro de Dusseldorf, ou ainda O homem que sabia demais), está muito engraçado, com falas espetaculares. Price também brilha como o agente funerário sempre bêbado que trata mal sua mulher, seu sogro, sem empregado, e usa das expressões mais canastronas para dar graça a seu personagem, e falas maravilhosas para fustigar os que o cercam. Karloff está bastante contido como o velho surdo, mas tem também sua graça.
O filme começa muito bem, e dá uma caída mais para o final, mas se trata de ótima diversão.


Nota IMDB - 6,6. Para mim, valeu mais. Gostei bastante. Vale um 7,5. Engraçadíssimo.

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