quarta-feira, 20 de julho de 2011

PARCEIROS DA NOITE (1980), de WILLIAM FRIEDKIN, 19.07.2011

Um filme um pouco confuso, com um final inconclusivo - mas que faz pensar - prejudicado pela péssima imagem que o TCM fornece, mesmo que numa TV de LCD e o escambau.
Quem já viu Operação França e o Exorcista, filmes com uma montagem apuradíssima, certamente sentirá certo estranhamento com esse Parceiros da Noite (Cruising, título original - que significa, aparentemente, no vocabulário gay as andanças em busca de parceiros sexuais desconhecidos e imediatos). Parece que o filme sofreu muita censura e cortes de possíveis 40 minutos de filmagem, o que certamente deixa algumas pontas mal-explicadas.


O filme trata da investigação de crimes na cena gay novaiorquina do final dos 70 (o filme é de 1980), especialmente na comunidade sadomasoquista, e que leva, para a realização da investigação, à infiltração do detetive Steve Burns (em grande interpretação de Al Pacino, sem os maneirismos  e cacoetes que o caracterizaram em filmes posteriores) em tal comunidade, uma vez que ele tem características físicas semelhantes às das primeiras vítimas do gay killer.

Para investigar, Burns passa a freqüentar clubes de S&M, o Central Park, pontos de "cruising" da comunidade gay, ter encontros homossexuais com suspeitos dos assassinatos.
Essa infiltração modifica o comportamento de Burns, altera seu comportamento com sua namorada Nancy (vivida por Karen Allen - a Marion de Indiana Jones), o modo como passa a ver a comunidade gay - aliás, constantemente achacada pela própria polícia de Nova York.

Com a descoberta do assassino, Burns passa a vigiá-lo, se aproxima, descobre problemas deste com seu pai (cartas escritas pelo assassino Stuart Richards, mas nunca enviadas), e tendo um encontro com ele no Central Park, o mata, quando Stuart tentá esfaqueá-lo.

O final cria um ponto de interrogação sombrio, em que não é possível descobrir quem matou o gay amigável (Ted Bailey) - não pertencente ao universo sadomasoquista - vizinho de Burns no apartamento que este alugou para viver infiltrado. Há a possibilidade de a morte ter sido causada pelo companheiro/amante desse, com quem Burns teve um desentendimento, porque esse companheiro imagina que Burns possa estar tendo um caso com Ted, ou mesmo que Burns tenha matado seu vizinho, como negação de sua possível homossexualidade, tentando matar seu impulso gay. Se como se diz em psicanálise, a homofobia esconderia uma homossexualidade latente, essa possibilidade certamente existe. Mas certeza do que houve não se tem.
Ao final, Burns livre da investigação, pois descoberto Stuart, não se desfaz de sua indumentária S&M, o que reforça as suspeitas quanto às tendências sexuais do policial.
O filme causou furor da comunidade gay, e foi por isso proscrito por muito tempo, e Friedkin viveu um ostracismo durante um bom tempo por ter realizado Cruising. No TCM, Valéria Monteiro comenta o filme e diz que é um dos filmes mais odiosos já feitos, no que, a meu sentir, ela está completamente equivocada. É isso que dá colocar alguém que aparentemente não entende porra nenhuma de cinema (não que eu entenda, mas eu tento pensar, ao menos), e lê um texto escrito por qualquer um. Não vejo o filme como homofóbico, mas sim um retrato da comunidade gay pré-AIDS, e um mergulho na mente e mudanças e perigos sofridos pelo policial vivido por Al Pacino durante a sua incursão ao mundo gay.
Nota do IMDB - 6,1. Merece mais.

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